Preste muita atenção nisso: a depressão na adolescência nunca deve ser negligenciada

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Depressão na adolescência

A depressão na adolescência tem se tornado motivo de grande preocupação. Quando uma célula “percebe-se” prejudicial ao seu meio, ela pode autodestruir-se. Conhecido como “apoptose”, este mecanismo bem pode ser chamado de “suicídio celular”. Da mesma forma, quando um ser humano se sente inadequado, deslocado ou até mesmo nocivo à sociedade em que vive, ele pode, como último recurso, apelar para o suicídio. E sendo a adolescência o período em que estes sentimentos aparecem com mais força e frequência, ela pode se tornar um terreno propício para esse trágico evento.

Em The Walking Dead, Phillip Blake, o Governador, descreve os adolescentes como uma “invenção do século XXI”. De fato, durante muito tempo a sociedade esteve dividida em crianças e adultos, apenas. A transição era marcada pela maturação sexual. Mesmo hoje ainda é assim em algumas culturas. Pouca ou nenhuma atenção se dá ao fato de que, neste caso, a mente não acompanha o corpo, demorando um pouco mais para adaptar-se a nova realidade. E esta é, sem dúvida, a parte mais difícil e dolorosa desse processo. É aí que está o perigo. Ignorar este fato e tratar estes indivíduos em formação como “mini adultos” ou meramente como “aborrecentes” pode levar a uma minimização errônea de sinais evidentes do que pode ser, certamente, um grave processo depressivo em andamento.

Opinião médica

De acordo com o Psiquiatra Dr. Timothy J. Legg [1], a adolescência pode ser um momento difícil para os adolescentes e seus pais. Durante esse estágio de desenvolvimento, ocorrem muitas alterações hormonais, físicas e cognitivas. Essas mudanças normais e muitas vezes turbulentas dificultam o reconhecimento e o diagnóstico de ansiedade e depressão subjacente. “A depressão em adolescentes é algo bem delicado de tratar“, diz o médico. “Os jovens que estão lutando com sua identidade sexual têm um risco especialmente alto de ter depressão na adolescência“, completa. O psiquiatra concorda que muitas vezes, apenas um remédio para depressão não é suficiente. E quem não se lembra do jogo da baleia azul?

Sintomas de depressão na adolescência

Os sinais de depressão em adolescentes são semelhantes aos dos adultos. Mas eles frequentemente se manifestam de maneiras diferentes. Alguns comportamentos auto-prejudiciais, como cortar ou queimar, são raros em adultos, mas mais comuns em adolescentes. Assim, os  sinais de depressão na adolescência pode levar a problemas comportamentais, tais como:

  • irritabilidade ou mau humor
  • uso de drogas
  • comportamento sexual de risco
  • uma queda nas notas ou freqüentes ausências da escola
  • autoflagelação (por exemplo, cortar ou queimar)
  • tentativa de suicídio ou planejar um suicídio
  • e, por fim, afastamento de amigos e familiares

Diário da adolescente que se suicidou em clínica psiquiátrica

Sara Green é um exemplo lamentável disso. Desde o começo de sua triste luta com os distúrbios mentais, aos 11 anos de idade, até sua morte aos 17, o que podemos ver é uma trágica sucessão de eventos que talvez pudesse ter sido evitada. Tudo foi, de fato, compulsivamente, registrado em seu diário. O agravamento da depressão e ansiedade após sua experiência com o bullying. A evolução para o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), um transtorno de personalidade. Ao mesmo tempo, a busca por alívio na automutilação, um dos sinais de depressão em adolescentes. As duas overdoses de antidepressivos. E por fim, as menções constantes ao desejo de desistir da vida, contrariando o mito de que suicidas não costumam avisar sobre suas intenções.

Depressão na adolescência
Diário de Sara revela que ela era obcecada por suicídio.

Penso muito mais em suicídio [agora] do que quando cheguei a este lugar, disse ela, mencionando a clínica psiquiátrica para adultos onde estava internada. Nesse momento, estes pensamentos estão cada vez piores. E infelizmente, tornaram-se fatos. Em um mês, Sara tentou enforcar-se oito vezes. Por fim, em março de 2014, seu corpo foi encontrado, já sem vida, ao lado de sua cama. Em seu colo, um arame de caderno espiral.

A clínica assumiu o erro

Durante o inquérito sobre sua morte, a clínica que a hospedava foi duramente criticada. Isso porque, não levava em conta as necessidades típicas de alguém da idade de Sara durante o tratamento. Segundo o documento, a distância de casa e o fato de estar numa clínica para adultos contribuíram significativamente para o desfecho. Assim, o que se confirma nos registros de Sara: Quero ir para casa (…) Não poder vê-las [a mãe e a irmã] tem me feito sentir muito pior”. A clínica, por fim, reconheceu o erro na abordagem e comprometeu-se a reavaliar seus métodos, até porque este está longe de ser um caso isolado. Contudo, nos últimos seis anos, pelo menos nove jovens morreram em clínicas psiquiátricas.

Fonte: bbc  Opinião médica: Psiquiatra Dr. Timothy J. Legg [1]