Como era ir no ginecologista no século 19, na Era Vitoriana

Durante quase todo o século 19 não era muito fácil fazer exames ginecológicos nas mulheres.

A ginecologia começou a ser “aceita” no final do século 18. Contudo, durante quase todo o século 19 não era muito fácil fazer exames ginecológicos nas mulheres.

Um dos maiores problemas na Era vitoriana,  era o acesso ao corpo das mulheres, protegido pelas normas de pudor, religião e decência implantadas pela sociedade.

Não podemos dizer que a anatomia feminina nunca foi explorada até o século 19.

A fotógrafa Lindsey Beal viajou o mundo em busca de instrumentos ginecológicos para um trabalho e descobriu que um objeto muito parecido com um espéculo pode ter sido usado na Grécia antiga, 300 anos antes de cristo.

De qualquer forma, sabemos que até final do século 18 o corpo da mulher era tão pouco explorado, que cabia às parteiras prognósticos às cegas no período do pré-natal e o parto.

Até mesmo os maridos não eram habilidosos em explorar suas esposas.

Até o século 18, não havia muita confiança em médicos homens tratando problemas femininas e acredite: ao longo do século 19, ainda era improvável que os maridos permitissem que uma parteira fosse tocada por um médico para procedimentos de pré-natal e parto.

Apesar de instrumentos como fórceps, terem sido usados desde o século 17, o médico só era chamado em situações complicadíssimas onde era necessária a intervenção profissional ou a paciente viria a óbito.

Na maioria das vezes o uso deste instrumento podia causar muito sofrimento para a mulher e até mutilar a criança.

Ao mesmo tempo, a ideia de que um homem que não fosse um familiar tivesse consentimento de tocar o corpo das mulheres, especialmente as partes íntimas, era algo surreal.

De qualquer forma, as mulheres não precisavam de tratamentos somente em caso de gravidez, não é?

No início da prática ginecológica, então, quando o especialista era chamado, ainda não era permitido que ele tocasse o corpo da mulher.

Quem fazia o toque nas partes íntimas por baixo da roupa, era o marido, sob a orientação constrangida do médico.

Caso a doente reclamasse de dor, ele balançava a cabeça para o marido e em seguida receitava o medicamento.

Com o passar do tempo, os consultórios ginecológicos foram mais aceitos, mas as esposas iam sempre acompanhados dos maridos que sempre entravam com elas.

No começo, uma espécie de manequim imitava o corpo da mulher, e as pacientes apontavam o local da dor ou do incômodo, para evitar apalpações consideradas desnecessárias.

Para não serem obrigadas a falar em voz alta seus problemas, poderiam escrever e entregar ao médico.

Os livros de medicina eram taxativos em orientar os médicos quanto a descrição do exame ginecológico.

A prática era assim: a mulher ficava de pé, e olhando para o lado, o clínico se ajoelhava e examinava a paciente introduzindo- lhe a mão por debaixo da saia.

A apalpação era feita às cegas, pois o ginecologista não podia visualizar de forma alguma a genitália, ou os seios das pacientes.

Os casos de corrimento vaginal e infecção por cândida, por exemplo, eram diagnosticados quando o médico tirava a mão da genitália.

Sempre sem olhar para o rosto da paciente ele se afastava para examinar a secreção na mão em outra sala.

Ali, o médico cheirava e observa cor e textura do corrimento. O exame era feito por aspecto e cheiro, apenas. Mas, de qualquer forma, já estavam familiarizados com as doenças da época e, portanto, não era tão complicado assim.

Mas, se houvesse alguma vermelhidão ou ferida, talvez o médico nunca saberia.

Por volta de 1830, a ginecologia ganhou um grande aliado, quando o médico James Sims melhorou o design do espéculo, originando o modelo que temos hoje.

Este homem, considerado “O pai da ginecologia moderna”, usou mulheres escravizadas para testar seus procedimentos cirúrgicos – sem anestesia – antes de usá-lo em mulheres brancas.

Felizmente, no início do século 20, surgiram as primeiras médicas ginecologistas mulheres.

As pacientes eram orientadas a levar consigo, suas queixas escritas em papel para a consulta. E então, os exames passaram a ser feitos com mais cuidado.