O anti-inflamatório nimesulida é sem dúvida um dos medicamentos mais consumidos do país. Um relatório de 2017 da Anvisa mostrou que o medicamento está no segundo grupo dos mais vendidos no Brasil. São vendidas, em média, de 70-100 milhões de unidades por ano. Mas, pode estar sendo tóxico ao fígado dos usuários.
O medicamento está indicado para o alívio da dor aguda. De acordo com a Bula (1) do medicamento, a nimesulida é uma substância que inibe a produção de enzimas liberadas durante o processo de inflamação. Ao mesmo tempo, faz parte da classe das sulfofanilidas, que possuem efeito antipirético e analgésico.
Inegavelmente, o anti-inflamatório é muito usado para dor de ouvido, garganta ou de dente. Ao mesmo tempo, muitas mulheres a usam para dores da menstruação. Sua forma de gel é usada, principalmente, para alivio da dor de tendões, ligamentos, músculos. Ainda que, seja também utilizada para dores nas articulações devido a traumatismos. Agora acredita-se que seja tóxico ao fígado.
Aqui no Brasil, como já dito, a Nimesulida é amplamente utilizado e receitado pela maioria dos médicos em diversos tipos de tratamento. Ainda assim, órgãos mundiais de saúde estão preocupados que a utilização deste medicamento. Eles acreditam que a Nimesulida possa estar desencadeando reações tóxicas no organismo do usuário.
Nimesulida é tóxico ao fígado
Uma revisão de literatura publicada na Revista Brasileira de Farmácia (2), alertou que têm sido relatados, em vários países, casos clínicos em que a hepatotoxicidade associada ao uso deste anti-inflamatório ocorreu de forma severa e até fatal. Ou seja, a Nimesulida parece estar afetando diretamente o fígado dos pacientes. O autor diz que os mecanismos envolvidos nessas reações relacionam alterações nos padrões funcionais das mitocôndrias. Isso, a saber, leva à morte das células do fígado, sendo considerado tóxico.
Nos últimos anos, seis casos de insuficiência hepática extrema levaram pacientes ao transplante de fígado. Infelizmente, tudo indica que o uso de comprimidos do anti-inflamatório nimesulida seja uma das causas. Estes dados são da Unidade Nacional de Transplante de Fígado (NLTU), na Irlanda.
Ao que parece, o doente pode desencadear uma insuficiência hepática fulminante (FHF) de procedência desconhecida. Assim, a hepatotoxicidade grave pode acontecer a qualquer momento e em qualquer paciente que venha fazendo uso do fármaco. Por isso, hoje, muitos países suspenderam a fabricação e venda de Nimesulida.
De acordo com a cardiologista Dra. Bruna Lemos Di Nubila, membro do site Doctoralia (3), apesar de a nimesulida permitir um alívio de quadros álgicos, pode trazer diversos efeitos colaterais como lesão hepática e renal em determinados pacientes mais suscetíveis. “Procurar um médico é sempre a melhor opção“, completa a médica.
Mortes e transplante relatados em artigos médicos
Um artigo publicado no Singapore Medical Journal (4) a nimesulida foi relatada como causa de morte por insuficiência hepática. No entanto, a maioria dos relatórios foi de países europeus. Relatórios asiáticos incluem os de Israel e da Índia. O relatório mostra três pacientes que apresentaram hepatite aguda após terem sido prescritos nimesulida, um dos quais morreu de insuficiência hepática fulminante.
Outro estudo publicado no Scandinavian Journal of Gastroenterology (5), relatou o caso de uma mulher de 63 anos que fez uso, por 7 meses, de nimesulida 100mg/kg para osteoartrose sintomática. Além da icterícia forte, ela apresentou insuficiência hepática aguda, confirmada por biópsia hepática, que mostrou necrose submaciça. Em menos de 30 dias, a paciente apresentou encefalopatia hepática e e precisou se submeter a um transplante ortotópico de fígado.
Ainda, outro estudo publicado no European Journal of Clinical Pharmacology (6) revelou um total de 13 casos notificados de lesão hepática grave em 2001. Com base nos relatórios da literatura, foram identificadas as seguintes características de hepatotoxicidade associada à nimesulida: sexo feminino (84% dos casos), idade (idade média de 62 anos), icterícia como manifestação primária (90%) e ausência de eosinofilia no sangue. A duração média da terapia dos casos publicados foi de 62 dias (variação de 7 a 180 dias).
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Nimesulida é proibido na Europa
Os efeitos colaterais diretos no fígado do paciente tem preocupado muito a Comissão Europeia. Inclusive, já houve um alerta para que o medicamento seja evitado, principalmente com uso crônico e repetido. Ao mesmo tempo, o anti-inflamatório nimesulida nunca foi aprovado no Reino Unido e na Alemanha. Além disso, já foi retirado de circulação do Canadá, Estados Unidos, Japão, Espanha, Finlândia, Irlanda, Bélgica, Dinamarca, Holanda e Suécia.
No Brasil e em Portugal, a nimesulida já é vendida como medicação genérica, sendo muito fácil encontrá-la nas farmácias. Aliás, a nimesulida até o final da década de 2000 era um dos anti-inflamatórios mais vendido nestes dois países. De acordo com o estudo de revisão de literatura (2), especialmente no Brasil, não foram encontrados relatos de caso documentados, o que não significa que não tenha ocorrido nenhum.
Desde 2007 a The International Society of Drug Bulletins (ISDB) soltou um boletim pedindo que o fármaco seja retirado de circulação nãos ó na União Europeia como em todo mundo!
“Assim, os profissionais da saúde devem estar alerta sobre a observação dos possíveis danos hepáticos associados ao uso dos AINES, em especial à nimesulida, uma vez que esse fármaco apresenta grande comercialização no país e, de forma preocupante, sem a exigência de receita para sua aquisição e consumo, com conseqüente falta de acompanhamento médico“, alerta Dr. Márcio A. Araújo, autor do estudo (2).
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