Essa foto é famosa, mas poucas pessoas sabem a real história do médico que operou a si mesmo. Entenda o que aconteceu naquele dia

Em fevereiro de 1961 o jovem médico russo Leonid Ivanovich Rogozov de 27 anos interrompeu sua promissora carreira acadêmica e se juntou à expedição a Antártica Soviética. Sua especialidade era cirurgia de câncer no esôfago, assunto da sua dissertação, recém defendida na época.

 Em abril do mesmo ano, após várias semanas no acampamento, Leonid notou sintomas de fraqueza, mal-estar, náuseas e, mais tarde, dor na parte superior de seu abdômen, que mudou para o quadrante inferior direito. Sua temperatura corporal subiu para 37,5°C. Ele então escreveu em seu diário de Bordo: “Parece que tenho apendicite. Eu estou mantendo silêncio sobre o assunto, mesmo sorrindo. Por que assustar meus amigos? Quem poderia ajudar?”

No fundo, o jovem médico sabia que se quisesse sobreviver, precisava de um procedimento cirúrgico, o quanto antes. Mas, ele era o único médico da base. No dia seguinte, a situação ficou crítica. Todos os tratamentos disponíveis foram aplicados (antibióticos, resfriamento local), mas o estado geral do médico só piorava: a febre não cessava e vômitos se tornaram mais frequentes.

Ele então escreveu no diário: “Eu não dormi na noite passada. Dói como o diabo! Ainda não há sintomas evidentes de que a perfuração é iminente… Eu temo em pensar que a única saída possível é operar a mim mesmo…”  No mesmo dia às 18:30h, ele voltou a relatar no diário que estava se sentindo horrível como nunca e que, os seus companheiros descobriram sua doença. Ele então relata no diário que ordenou que ligassem a autoclave e esterilizassem tudo para uma cirurgia.

Seguindo as instruções do médico, os membros da equipe montaram uma sala de operações improvisada. Eles se retiraram tudo da sala, deixando apenas sua cama, duas mesas, e uma luminária de mesa. Ele orientou que, no caso de perder a consciência, sua equipe deveria injetá-lo com drogas usando as seringas que ele havia preparado.  Quando os preparativos estavam completos Rogozov limpou-se e se posicionou.

Durante o procedimento, por várias vezes ele sentiu que perderia os sentidos.

A cirurgia

O procedimento teve início às 02:00h. Ele mesmo injetou diversas injeções de anestésico e 15 minutos depois fez a incisão. A visibilidade era péssima e ele trabalhou pelo tato. Depois de 30-40 minutos começou a fazer pausas, pois se sentia muito fraco e tonto. Mas, mesmo assim retirou o apêndice infeccionado. Ele mesmo aplicou antibióticos na cavidade peritoneal e fechou a ferida. A operação durou uma hora e 45 minutos e as imagens que circulam por aí são reais, feitas por dois companheiros que acompanharam o procedimento.

Ele se manteve calmo. Sua vida dependia de sua calma e habilidade.

O pós-operatório

Terminado o procedimento, ele mesmo tomou os comprimidos e deitou-se. No dia seguinte, a temperatura foi de 38,1°C, ele descreveu no diário sua condição como “moderadamente preocupante”, mas, que no geral se sentia melhor.

 Depois de quatro dias a sua função excretora voltou ao normal e os sinais de peritonite localizada desapareceu. Depois de cinco dias a temperatura era normal, depois de uma semana ele retirou os pontos. Dentro de duas semanas, ele foi capaz de retornar às suas funções normais.

Nesta imagem, o médico está se recuperando da cirurgia, mas já está fora de perigo!

Mais de um ano mais tarde, o navio atracou na sua cidade. Leonid trabalhou e lecionou no Departamento de Cirurgia Geral do First Leningrad Medical Institute. Ele nunca mais voltou para a Antártica e morreu em São Petersburgo, em setembro de 2000.

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