Algumas práticas e hábitos na mesa de cirurgia do século 19 podem ser chocantes até mesmo para as pessoas da época.
As informações foram tiradas de trechos do livro “A arte da Carnificina” da historiadora Lindsey Fit-Reris
A era vitoriana foi um período de muitas descobertas na área da ciência e saúde. Os vitorianos tinham sede de conhecimento, principalmente nesse tema.
Depois da metade do século 19, muitas mudanças nas salas de cirurgia aconteceram, o que levou à reconhecida “revolução cirúrgica”.
Mas até lá, os procedimentos eram muito arriscados. A alta taxa de mortalidade durante esse período é amplamente divulgada em jornais, revistas médicas e inquéritos legistas.
Uma pessoa saudável poderia não sobreviver a uma remoção de unha encravada, por exemplo.
Selecionamos alguns fatos chocantes sobre a cirurgia na era vitoriana.
Os médicos tinham orgulho de circular com roupas encharcadas de sangue
A sala cirúrgica dos anos 1800 era criadouro de infecção e hospital era um local primitivo, usado para alojar moribundos.
As salas de cirurgia eram lugares crivados de sujeira, doenças, cartilagens, vômito e sangue coagulado.
A roupas dos cirurgiões não eram diferentes. Eles se sentiam orgulhosos em entrar na sala de operações, pegar o seu avental enrijecido de sangue coagulado e partir para mais um procedimento cirúrgico.
Na verdade, eles até iam para casa usando o avental encharcado pelos procedimentos da semana.
Carregavam o fedor de carne podre para casa e o avental era, geralmente, lavado pela esposa para ser usado no dia seguinte.
Multidões assistiam à cirurgia em volta da mesa de operação
Como se já não bastasse a falta de conhecimento a respeito da higiene, as cirurgias eram como shows.
Operar diante de uma plateia não era nada incomum durante a era vitoriana, e o risco de contaminação nem sequer era considerado.
Os cirurgiões do século 19 permitiam que estudantes, funcionários do hospital e até parentes acompanhassem os procedimentos junto à mesa de cirurgia.
Alguns hospitais mantinham uma espécie de arquibancada para as pessoas assistirem a tudo com conforto.
Muitas vezes aconteciam empurra-empurra e até briga pelo melhor lugar. Tudo isso diante do cirurgião e do paciente moribundo.
Diante do pouco conhecimento dos anestésicos, muitos pacientes agonizavam de dor e segundo registros, os gritos do moribundo muitas vezes podiam ser ouvidos da rua.
Clorofórmio era o “anestésico” mais usado
Imaginar uma retirada de apêndice sem anestesia é algo quase impossível para nós.
Mas nos anos 1800 não havia o conhecimento profundo dos anestésicos e o clorofórmio era o que se usava para desmaiar o paciente e poder fazer os procedimentos.
Foi um obstetra em 1847 que teve a ideia após desmaiar em casa após aspirar profundamente o clorofórmio.
Depois disso, ele espalhou sua descoberta e o produto passou a ser usado em diversas práticas cirúrgicas.
A própria rainha vitória recebeu clorofórmio para o nascimento de seus dois últimos filhos.
Ferro quente era usado para estancar hemorragias
Na cirurgia vitoriana, onde havia sangramento abundante de uma ferida, um ferro quente poderia ser usado para interromper a hemorragia. Obviamente, isso não era nada agradável.
Na verdade, era um procedimento de cauterização primitivo que funcionava bem, apesar da dor do paciente.
Essa prática já vinha sendo usada em hospitais desde o século 17 e foi bem aceite até o início do século 20.
No início, as cirurgias não eram feitas com o paciente deitado
Até o clorofórmio ser descoberto como alternativa para desmaiar o paciente, as cirurgias muitas vezes eram feitas com a pessoa sentada.
Sem surpresa, a pessoa também era amarrada com tiras de couro para não se mexer muito.
A cadeira ficava sobre o chão coberto de serragem para aparar o sangue que escorresse. Obviamente, nada disso era limpo e estéril.
Membros amputados caíam na serragem
Em alguns casos, a amputação era necessária também naquela época.
Uma fratura exposta, ou uma ferida crônica já era motivo para serrar uma perna ou um braço.
Quando esse procedimento era necessário, do lado da mesa de cirurgia, havia um balde cheio de serragem, onde o membro amputado era jogado.
Alguns livros lembram que quando a perna ou o braço eram separados do paciente e jogados no balde de serragem, as pessoas da arquibancada aplaudiam o médico pelo belo trabalho.
Os hospitais eram só para pobres
Se você tivesse a sorte de ser rico durante a era vitoriana, um médico de família iria na sua casa, no conforto da sua própria cama.
Mas se você fosse pobre, você seria atendido em hospitais e cabia ao governo, e não a equipe médica, decidir quem necessitava de atendimento e internação.
As internações aconteciam uma vez por semana de acordo com as vagas.
Os doentes normalmente se enquadrariam em duas categorias: “incuráveis” para doenças infecciosas ou “lunáticos” que sofriam de doenças mentais.
Nessa época, o famoso Hospital Sent Thomas ‘em Londres era que “nenhum paciente deveria ser admitido mais de uma vez com a mesma doença”.
A verdade, é que a cirurgia do século 19 foi, de certa forma, um filme de terror, com direito a cenas sangrentas de dar inveja aos grandes cineastas de hoje.