O famoso médico “pai da ginecologia” usou Anarcha Westcott para treinar obstetrícia na Era Vitoriana

Hoje você vai ver a história do pai da ginecologia Dr. James Sims e seus experimentos obstétricos usando a escrava Anarcha Westcott como cobaias.

As atitudes do médico são motivos de debates atualmente.  Seus experimentos estariam, até hoje, salvando a vida de muitas mulheres? Ou ele foi racista, cruel e desumano por usar mulheres negras em seus estudos?

James Sims, é considerado o pai da ginecologia

Até hoje, o médico é ovacionado pela classe como o primeiro ginecologista da história.

Em 1845, Dr. Sims inaugurou o primeiro hospital para as mulheres no Alabama.

No entanto, hoje, médicos e cientistas questionam o seu título por causa de seus métodos polêmicos de estudo, que envolviam escravas e dispensavam anestesias.

Na Era Vitoriana, muitas mulheres sofriam de fístulas vesico-vaginais. Um problema que leva ao surgimento de uma ligação entre a bexiga e a vagina, geralmente causada por um parto inadequado.  Mas ainda não havia uma técnica cirúrgica para o problema.

O médico, então, realizou cirurgias experimentais em escravas que sofriam do problema para investigar, desenvolver e melhorar as técnicas cirúrgicas que trariam a solução.

Dr. Sims, aprimorou suas técnicas através da experimentação em escravas e só mais tarde, iniciou os procedimentos de cirurgia reparadora em mulheres caucasianas, com o uso de anestesia.

Anarcha Westcott, a maior cobaia

Uma de suas cobaias, foi a jovem Westcott, uma adolescente negra grávida de 17 anos que vivia no estado do Alabama.

Ela era escravizada por um proprietário de terras e sofria de raquitismo crônico. Como consequência da desnutrição tinha uma anomalia pélvica que dificultava o parto.

Em 1849, ela permaneceu durante três dias em um doloroso trabalho de parto e o médico James Sims, se ofereceu para ajudá-la.

Os médicos da época, mantinham uma crença equivocada de que negros sentiam “menos dor” do que brancos. Com este pensamento, Dr. Sims, realizou quatro operações experimentais na jovem — sem anestesia.

Apesar da inacreditável crueldade, Sims sabia bem o que estava fazendo com a mãe e, SIM, ele tratou Anarcha como cobaia.

Sua técnica deu certo, e mesmo causando dor alucinante, a jovem teve a criança.

Porém, ela não escapou tão cedo das mãos do médico: o procedimento rendeu não só muitas lágrimas, como houve também um  pós-operatório com dores e sangramento persistente.

Animado com as descobertas, o médico voltou a fazer mais cirurgias experimentais e exploratórias na moça.

Ao todo, Anarcha foi operada cerca de 30 vezes pelo médico. Isso mesmo! Essa moça foi operada de forma experimental 30 vezes sem anestesia.

A dor e o sofrimento dessa moça são raramente citados nas anotações do médico e até mesmo nos livros atuais. Por outro lado, Sims ganhou fama e reconhecimento, sendo até hoje considerado o “pai da ginecologia moderna”.

A verdade é que entre 1845 e 1849, James Marion Sims operou dezenas de escravas em seu hospital. Muitas dessas mulheres morreram em suas mãos.

Ao todo  75 moças que trabalhavam na plantação junto com Anarcha participaram dos experimentos do médico.

Também estiveram lá as jovens Betsy e Lucy. Lucy, por exemplo, tinha 18 anos e, após dar à luz, não conseguia controlar a bexiga. Então, ela foi submetida à uma cirurgia de uma hora, gritando e chorando de dor, enquanto quase 12 médicos observavam.

Após a utilização do uso de uma esponja infectada para drenar a urina da bexiga, a jovem Lucy contraiu uma infecção. Ela demorou, cerca de três meses para se recuperar e quase morreu.

Não se sabe, hoje, se os experimentos de Sims eram autorizados, mas tudo indica que não.

Em uma de suas anotações, o médico afirmou que a paciente Betsy “consentiu voluntariamente” com um exame obstétrico. Mesmo assim, acredita-se que ele enganava as cobaias com falsas promessas.

Em uma ocasião, Dr. Sims expressou preocupação em seus registros afirmando que ele pensava que Anarcha e as outras mulheres poderiam morrer, mas, felizmente, não morreram.

Pouco se sabe sobre a vida pessoal de Anarcha Westcot depois que ela sobreviveu a 30 procedimentos cirúrgicos.

Mas é provável que tenha voltado a trabalhar na plantação até seus últimos dias.

O caso de Anarcha foi o que ganhou mais destaque, pois, as torturas sofridas pela adolescente serviram para que o doutor “aperfeiçoasse” seu método bem-sucedido para a cura da fístula vesicovaginal.

Apesar da eficácia técnica, foi alto o custo ético do procedimento, baseando-se em teorias científicas falsas.

Depois, o médico começou a utilizar suas novas técnicas em mulheres brancas — mas, dessa vez, usando os anestésicos disponíveis na época.

Ao longo do tempo, a sua base foi deixada de lado e o doutor foi louvado por suas descobertas científicas, que foram aprimoradas e são utilizadas até hoje nos consultórios.

James Marion Sims ganhou até uma estátua no Central Park, em Nova York. Mas, em 2018, o monumento foi removido.

No local, foi colocada uma placa sobre a origem dos experimentos e uma homenagem para as escravas Lucy, Betsey e Anarcha.  O monumento foi transferido para o cemitério onde está o túmulo do médico.