Sim, é isso mesmo, gente! Uma mulher chamada Mary Toft fez a Inglaterra inteira acreditar haver dado à luz 18 coelhos.
Uma história surreal, que fez até com que médicos da família real estudassem o caso.
“Desde que escrevi pela última vez, a pobre mulher deu à luz três novos coelhos… caso queira ver isso com seus próprios olhos, venha rápido, pois parece que ela tem outro coelho em seu útero. Não sabemos quantos mais há lá dentro”.
Esse foi um trecho da carta escrita por John Howard, um cirurgião Inglês, ao médico da corte do rei George I, em 1726.
A pobre mulher era Mary Toft, de apenas 23 anos.
Diante da curiosíssima história, o médico da corte foi enviado para examiná-la.
A carta dizia também que, em 23 de abril deste mesmo ano, enquanto urinava em um campo, a mulher teria visto um coelho.
A mulher, que estava grávida na ocasião, perdeu o bebê naquele mesmo dia.
O bebê, segundo ela, era deformado e se parecia com o coelho desfigurado.
Hoje parece algo descabido, mas temos que entender que naquela época existiam muitas dúvidas sobre a concepção e os motivos de se perder um feto.
Havia gente estudada que acreditava que mulheres podiam afetar o desenvolvimento dos ossos do bebê apenas com a força do pensamento.
Havia gente que acreditava que o sangue menstrual era venenoso e poderia queimar a pele do homem.
Então, não há como julgar as crenças da época.
Foi após perder o bebê que Mary começou a contar para amigos e vizinhos que estava dando à luz a pedaços de coelhos.
Apesar de que saíam mortos de seu ventre, e nunca inteiros, eles pareciam estar saltando em sua barriga, segundo o depoimento de um terceiro médico que a examinou.
Esse médico garantiu haver movimento anormal em uma parte do lado direito de seu abdome.
Os médicos realmente pareciam acreditar nessa versão e toda a comunidade médica da Inglaterra passou a comentar o caso.
O próprio médico da corte disse ter visto “nascer o décimo quinto coelho”, mas outro médico real, chamado Cariacus Aller, não estava muito convencido dessa loucura.
O médico fez algumas perguntas à paciente, e ela se mostrou confusa e não conseguiu responder à maioria delas.
O médico registrou em um manuscrito: “Observei-a com atenção, pois ela caminhava pela casa com os joelhos juntos, como se tivesse medo de que algo caísse“.
Cariacus também testemunhou um “nascimento”, mas ele, como médico, tinha sérias suspeitas.
Esperto, ele fingiu compaixão e ajudou a cuidar da mulher, dizendo inclusive que o rei lhe daria uma pensão…
Segundo alguns historiadores, o dinheiro era a motivação da mulher. Mas outros, garantem que ela sofria de um distúrbio pós-traumático.
Mas, a verdade começou a revisitar, quando o médico da corte examinou os restos mortais dos coelhos “nascidos”.
Ele encontrou detalhes suspeitos: havia feno em seus estômagos, o que indicava que comeram fora do corpo da mulher.
Além disso, as pernas tinham cortes precisos, pareciam ter sido cortadas com facas.
Mesmo assim, Mary, que vivia em uma pequena vila, foi levada a Londres, onde esperou o nascimento de seu “18º filho-coelho”.
O caso já tinha se destacado na imprensa.
Alguns jornais satirizavam a situação, outros, demonstravam comoção.
Até a mentira ser revelada, a população inglesa deixou de comer coelhos.
Mary Toft foi desmascarada
A história começou a mudar quando um dos empregados da casa em que Mary estava hospedada relatou que ela havia pedido que ele lhe trouxesse o “menor coelho que encontrasse”.
Um dos médicos que a examinou antes, ficou indignado com esse pedido e exigiu que ela confessasse a fraude.
O médico afirmou esbravejando que ela era uma impostora e que outros médicos estariam a caminho para fazer um procedimento doloroso a mando do rei.
Ela se viu acuada e aos prantos confessou histórias cheias de contradições.
“Tive um parto horroroso. Algo monstruoso saiu de dentro de mim, logo após ter visto coelhos. Meu corpo estava aberto, como se um bebê tivesse saído. Tive uma dor imensa, como se meus ossos estivessem se quebrando“.
Suas confissões, porém, tinham três finais distintos. Em uma versão, negava a fraude. Nas outras, disse ter sido obrigada por uma mulher e até mesmo pela própria sogra.
Mary Toft queria que todos acreditassem que ela dava à luz coelhos.
Quando a repercussão trouxe pessoas importantes e doações começaram a vir, ela passou a tirar vantagem na situação.
O que aconteceu foi que durante meses, ela caçou coelhos, matou, dissecou suas partes e as introduziram em seu corpo através do genital.
Estrategicamente, expelia os pedaços do coelho, horas depois.
No momento do suposto nascimento ela demonstrava sofrimento e dor atraindo pessoas para ajudar e presenciar a saída dos pedaços de coelho.
Era um processo incômodo, assustador, mas muito realista para a época.
Um dos médicos envolvidos na história escreveu: “Estou completamente convencido de que isso é uma fraude abominável. Mary Toft é uma ótima atriz“.
A mulher foi presa, mas, como simular gravidez não era crime, foi solta logo depois.
Ela morreu 37 anos depois dessa história, mas nunca se livrou da má fama.
Viveu escondida todo esse tempo e sempre que aparecia em público era insultada.
Em seu atestado de óbito, ela consta como “Mary Toft, a impostora dos coelhos“.
O caso teve grande repercussão no meio médico britânico.
Os médicos envolvidos foram alvo de zombaria e chegaram a ser citados por filósofos, como Voltaire, que usou o caso de para criticar a Inglaterra por ignorância religiosa e médica.