Levar crianças em velórios e enterros, é certo? Psicóloga responde

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criança chorando no cemitério criança em velorios e enterros

Já tratamos a questão da morte na visão das crianças em outro texto. Diversas pessoas questionaram se levar crianças em velórios e outros rituais envolvidos na morte – cremação e enterros (sepultamento) – é uma decisão acertada. Assim, estamos reunimos algumas informações sobre o assunto com o propósito de elucidar a decisão dos pais.

Embora você nem imagine, há uma gama de estudos que tratam esse assunto de forma científica. Ao mesmo tempo, há opiniões adversas dos profissionais. É lógico, que levar crianças a cemitérios ou velórios, tem restrições. Há uma diferença no tratamento de crianças muito pequenas e aquelas maiores – 7 a 10 anos, por exemplo. Isso porque, mesmo as crianças tendo acesso a informações na internet, quando o fato acontece com um ente querido, a coisa muda de figura.

Estudo de 4 casos reais

Um estudo publicado na Revista Psicologia: Ciência e Profissão (1) acompanhou quatro diferentes casos de crianças – entre 2 e 8 anos de idade – que perderam entes queridos. Participaram responsáveis por crianças que sofreram a perda de um parente próximo quando tinham entre dois e oito anos de idade. Por decisão dos responsáveis, e não do estudo, nenhuma dessas crianças participaram dos velórios, enterros ou cremações. As crianças mais velhas foram consultadas se queriam ou não ir, e, diante da explicação sobre esses ritos, decidiram que não participariam.

Assim, fica claro, que no caso das crianças maiores, a própria decisão deve ser levada em conta. Alguns familiares forçam que a criança, quando a criança não está preparada. De acordo com a psicóloga clínica e organizacional Camila Lemes, é muito importante falar para a criança antes, onde ela está indo e se questionar se ela quer ir. Com toda a certeza, é necessário conversar com ela sobre o que ela viu e ouviu.

As crianças menores, no entanto, não entendem a morte de forma clara. Assim, de acordo com o estudo, o uso de metáforas – “Vovó virou estrelinha” ou “Vovó foi morar no céu” – acaba amenizando a perda. Ao mesmo tempo, deve ser passado a todo momento que isso é definitivo. Deve estar claro para a crianças que ela não poderá conviver de novo com a pessoa.

Levar ou não levar?

As crianças nunca devem ser levadas por obrigação a um ritual de morte. Mas, preste atenção: se você questionar uma criança menor de 5 anos de idade se ela quer ir ao velório, ela dirá que sim. Por que? Ela quer ficar perto dos pais, pois ela sabe que algo está acontecendo e se sentirá segura ao lado deles. Contudo, talvez, leva-la a velórios e/ou enterros pode acarretar desvios emocionais. “Algumas crianças depois de irem a velórios apresentam sintomas que vão além do choro e da tristeza. Ao mesmo tempo, pode passar a fazer xixi na cama, ir mal nos estudos. Sentir culpa e até adoecer. Algumas ficam hiperativas ou sem apetite. Às vezes sentem raiva da pessoa que morreu, de Deus e de quem imaginam que poderia ter evitado a perda”, explicou a psicóloga Camila.

O pediatra Dr. Alfonso Eduardo e a psicopedagoga Ana Maturano, acham que a criança deve ir aos rituais.  Para eles, quando a criança participa de um funeral, tem a possibilidade de entender o luto. Ao mesmo tempo, vivenciá-lo, criando menos fantasias.  É importante, contudo, explicar a ela, simplificadamente, que a pessoa não estará mais presente e que o velório é uma despedida. Também é preciso tomar cuidado com as respostas às perguntas que ela fizer.  Assim, é preciso evitar criar ideias erradas sobre a morte, como dizer que o falecido está dormindo. Seja franco e diga que é natural morrer um dia.

O que concluímos?

Por fim, a decisão dos responsáveis deve levar em conta a idade da criança. Ao mesmo tempo, cabe a eles conhecerem o quanto seus filhos são capazes de participar de ritual desta dimensão. A orientação é que crianças menores não participem dos rituais. Contudo, a morte deve ser comunicada claramente. As maiores devem ser questionadas se desejam participar, sendo alertadas do o que irão presenciar. Do mesmo modo, não se faz necessário convidar a criança para ir a velórios de vizinhos, ou amiga da mãe, por exemplo. Guarde essa vivência para um momento realmente necessário, como a perda dos pais, avós, irmãos.

Artigo científico: (1)