A ciência a serviço do mal: o aprimoramento da espécie humana por meio da seleção social

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Frequentemente escutamos discursos que defendem a igualdade entre os seres humanos. No entanto, o preconceito ainda está implícita ou explicitamente incluso na sociedade, existindo muitos casos de racismo, xenofobia (preconceito contra outras nacionalidades), homofobia, intolerância religiosa, dentre outros. E porque isso acontece? Trata-se de questões históricas, que tiveram origem na própria constituição da sociedade, em que não somente questões de ordem política e econômica influenciaram, como a própria ciência o fez. Exemplos da utilização (e deturpação) dos discursos científicos, que colaboraram para tristes episódios, são o darwinismo social e a eugenia.

Os estudos de vários cientistas, dentre eles os realizados por Charles Darwin no século XIX, culminaram na elaboração da Teoria da Evolução. Uma das principais bases da teoria é a Seleção Natural, que postula que as espécies mais adaptadas sobrevivem a um determinado ambiente, perpetuando suas características “vantajosas”. O sucesso dessa teoria foi tão grande que transpassou o limites da Biologia: intelectuais começaram a explicar a sociedade por meio de justificativas que pautavam-se em relações entre as diferenças sociais e a sobrevivência dos “mais fortes”. Em outras palavras, algumas sociedades (principalmente as europeias) começaram a ser colocadas como superiores a outras (como as africanas e asiáticas), e por isso teriam o direito de dominá-las e civilizá-las, “ajudando-as a evoluir”.

A relação entre as teorias evolucionistas e o contexto histórico é evidente: no século XIX, com a crescente Revolução Industrial (surgimento de novas tecnologias), os interesses capitalistas visavam expandir o domínio sobre o mercado econômico mundial (imperialismo), onde muitas indústrias (automobilísticas, alimentícias, etc.) criaram multinacionais e estenderam seus domínios para vários países. Com a soberania de alguns países, as desigualdades sociais no mundo se intensificaram, e as ideias de Darwin foram utilizadas para justificar que isso seria algo “normal”, visto que os povos dominantes (europeus) eram superiores, sendo os burgueses os mais ricos, capacitados, fortes e inteligentes, que deveriam, portanto, prevalecer.

O darwinismo social foi uma abertura para o surgimento de outras teorias preconceituosas que tentavam justificar-se cientificamente. As teorias eugenistas tinham como princípio o aprimoramento da espécie humana por meio da seleção de indivíduos “perfeitos” para casar e procriar, além da eliminação de características indesejadas por meio da castração. Resumidamente, procurava-se incentivar pessoas brancas, consideradas inteligentes e com boa saúde a casarem entre si, deixando descendentes, ao mesmo tempo em que procurava-se evitar que raças “impuras” e deficientes físicos ou mentais procriassem. O objetivo era atingir a “perfeição”, ou seja, aquilo que era considerado como o ideal, socialmente falando. Absurdo, não é?

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Para quem gosta de história, o pensamento eugenista possivelmente lembra os tristes acontecimentos proporcionados pelos nazistas, em que muitos judeus e homossexuais foram mortos por serem considerados “inferiores”, e por isso deveriam ser exterminados em prol do domínio da raça pura (ariana). Lembre-se, por exemplo, dos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial ou sobre Adolf Hitler, que relatam a morte impiedosa de muitas pessoas em campos de concentração. Porém, as teorias eugenistas perpetuaram-se em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos, e mesmo que não pronunciado diretamente, ainda restam muitos resquícios e adeptos de tais pensamentos na atualidade.

Realmente, nesses acontecimentos históricos, os objetivos de Darwin passaram muito longe de ser contemplados, com tais distorções de suas teorias. Não existe “ser superior”, e Darwin jamais disse que “o mais forte sobrevive”. Pelo contrário, há características que são mais vantajosas para um ambiente, mas que em outro não seriam. Evolução não é sinônimo de “melhor”, mas de descendência com modificações adaptativas. E a história, mesmo com seus inúmeros absurdos, que ferem aos que a vivenciaram, jamais deve ser esquecida, pois é olhando para os erros do passado que podemos construir um futuro melhor e mais humano.

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Fontes: uol/ufrgs/significados/brasilescola/educacional/mundoeducacao