Por que os seres humanos têm uma infância tão longa em relação aos outros mamíferos?

“Pelo que sei somos os mamíferos que mais demoram para alcançar o desenvolvimento do corpo de um adulto. Nossos bebês demoram pelo menos 15 anos para alcançarem a maturidade sexual. Por que? Isso tem explicação biológica?” (Samara Rodrigues)

De fato, Samara, se comparados com outros mamíferos, nós somos os que mais demoram para atingir a maturidade sexual. Tendo como comparação os chimpanzés. Enquanto os seres humanos aos quatro anos de idade ainda são completamente indefesos e dependentes, os chimpanzés com a mesma idade já estão na maturidade sexual.

Cientistas da universidade americana de Harvard, do instituto alemão Max Planck de biologia evolutiva e do Síncrotron Europeu (ESRF) em Grenoble (França), publicaram um estudo no periódico “Proceedings of the National Academy of Sciences” afirmando que os Neandertais atingiam a maturidade muito antes dos humanos modernos.

Uma análise radiológica dos dentes dos Neandertais, demonstra que uma infância longa é uma característica da nossa espécie e pode ter sido uma vantagem evolutiva. “Descobrimos que a maioria das coroas dentárias dos Neandertais cresceram mais rapidamente do que os dentes dos humanos modernos, resultando em maturação dentária significativamente mais rápida”, disse a bióloga Dra. Tanya Smith, autora do estudo. Isto indica que o prolongamento da infância foi um desenvolvimento relativamente recente. “O amadurecimento lento dos humanos pode ter facilitado uma aprendizagem adicional e um conhecimento complexo, dando assim aos primeiros homo sapiens uma vantagem sobre seus parentes Neandertais“, assinalou.

Segundo o estudo liderado pelo Dr. Christopher Kuzawa, professor do Departamento de Antropologia da Universidade Northwestern, o alto consumo de energia que o cérebro exige nos primeiros anos de vida é a razão pela qual a infância dos humanos é tão prolongada em comparação com a dos outros mamíferos. Segundo os autores, as crianças humanas crescem em um ritmo lento, semelhante aos répteis. “Nossas conclusões indicam que nossos corpos não podem dar o luxo de crescer mais rápido durante a infância devido à enorme quantidade de recursos que são necessários para sustentar o desenvolvimento do cérebro humano“, afirmou Kuzawa..

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Cientistas e antropólogos, ao longo de anos pesquisando, descobriram que esse aspecto está relacionado ao consumo de glicose pelo cérebro humano. Foto: Reprodução/noticiascabana

O apetite do cérebro por energia atinge o seu ápice por volta dos quatro anos de idade. O estudo diz que é com essa idade o cérebro “queima” o combustível equivalente a 66% do que é utilizado pelo resto do corpo. Apesar de ser amplamente aceito que as necessidades metabólicas do desenvolvimento do cérebro humano restringem o ritmo da evolução, esses requisitos ainda não eram conhecidos. Agora, combinando dados de tomografias por emissão de pósitrons (PET, sigla em inglês), uma análise que mede a absorção de glicose, e imagens de ressonância magnética (MRI, sigla em inglês), que medem o volume cerebral foi possível chegar a estes resultados.

Assim, os resultados obtidos demostraram que, nesta idade – entre os quatro e cinco anos de idade – a necessidade do cérebro por glicose encontra-se no máximo, interferindo no crescimento do restante do corpo. Com a glicose sendo prioritariamente consumida pelo cérebro nessa fase,  o restante do organismo desenvolve-se em um ritmo muito mais lento do que outros animais. A longa infância faz parte do processo evolutivo do ser humano, já que isso é fundamental para o processo de desenvolvimento da inteligência e outras capacidades cognitivas.

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A longa infância faz parte do processo evolutivo do ser humano, já que isso é fundamental para o processo de desenvolvimento da inteligência e outras capacidades cognitivas. Foto: Reprodução/dathangtaobao
Sites: exame.abril/ ultimosegundo
Artigos: Dental evidence for ontogenetic... & Metabolic costs and evolutionary….