Toda cobra é cega? Conheça como as cobras “enxergam” por meio de seus sentidos

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“Tenho lido vários artigos sobre a visão das cobras. Afinal, como funciona de fato a visão das cobras? ” (Bell Leite)

Uma pergunta bem curiosa Bell, mas antes de falar sobre os sentidos, vou falar um pouquinho sobre as cobras. Pertencentes a ordem Squamata, são “parentes” dos lagartos. Popularmente chamadas no Brasil de cobras, as serpentes são répteis sem patas, carnívoros (comem pequenos mamíferos, aves, ovos, lagartos, insetos e até outras cobras), que vivem sozinhas, não apresentando relações sociais (não existe grupo de cobras!). Possuem mandíbulas flexíveis, que pode ser “desencaixada” para engolir sua presa. Algumas cobras matam suas presas com veneno, e outras matam por esmagamento. Por engolir suas “vítimas” inteiras, seu processo de digestão proporciona alto gasto de energia, o que faz com que a cobra geralmente fique parada até terminá-lo. E sua pele, coberta por escamas, é trocada com frequência.

Sobre a visão das cobras, para começo de conversa, elas são míopes! Isso mesmo! As cobras têm uma visão muito rudimentar. Com pálpebras soldadas e transparentes, algumas espécies que possuem a pupila arredondada, com hábitos arborícolas e diurnos, até possuem uma visão um pouquinho melhor. Mas as espécies com pupila vertical ou elíptica e outras como a cobra-cega (que possui olhos vestigiais, não funcionais), enxergam muito pouco! Mas então, como as cobras conseguem atacar as suas presas? Na verdade, Bell, as cobras possuem outros mecanismos para “enxergar”, ou melhor dizendo, se orientar…

Por meio de células sensitivas localizadas no focinho, as cobras conseguem detectar luz infravermelha. Esse comprimento de onda invisível aos olhos humanos (sentimos apenas seu calor) emana de todos os corpos. Por meio da distinção da temperatura corporal, a cobra consegue identificar a presença e o tamanho de sua presa, sabendo a posição e a distância que ela se encontra, além de distinguir o sentido e a velocidade do seu movimento. E o mais incrível é que as cobras podem identificar diferenças mínimas de temperatura (0,003º C) a um raio de 5 metros!

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Mas como funciona essa “visão”? As células sensitivas, também chamadas de fossetas, podem ser loreais (dois pequenos orifícios localizados entre os olhos e as narinas) ou labiais (vários pequenos orifícios entre as escamas dos lábios, principalmente nos superiores). As fossetas possuem uma membrana rica em terminações nervosas, que enviam sinais direto ao cérebro da cobra, em uma região do cérebro que também corresponde aos olhos. A capitação de luz infravermelha acarreta na geração de uma imagem térmica de presas que possuem sangue quente. Dessa forma, a cobra tem a sua visão por meio de uma combinação de informações visuais e térmicas, mas é claro que por seu olho rudimentar elas se guiam mais pelo segundo meio.

Além da “visão”, as cobras também contam com um “olfato” diferenciado: as cobras vivem com a língua para fora justamente para sentir o “cheiro” de suas presas e perigos. Sua língua bifurcada captura partículas suspensas no ar, que, ao entrar em contato com uma estrutura de sua boca (uma cavidade dupla, revestida por um epitélio sensorial do tipo olfativo) chamada de órgão de Jacobson, informações são enviadas ao cérebro. Dessa forma, o “olfato” também é uma forma das cobras se guiarem.

Por fim, apenas ressalto muito brevemente que as cobras são praticamente surdas! É bem verdade que as cobras possuem ouvido interno, mas esses seres não possuem tímpano e ouvido externo, o que faz com que tenham uma audição rudimentar. No entanto, o ouvido interno permite a cobra sentir as vibrações do solo, só que essa percepção de som é limitada, já que não conseguem identificar a direção, o que não colabora muito para a sua orientação de caça ou fuga.