Estudo identifica um circuito cerebral que torna o indivíduo monogâmico para sempre

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O Arganaz-do-campo (Microtus ochrogaster) é uma espécie de mamífero que vive em campos abertos na região central dos Estados Unidos e ao sul do Canadá. Diferente das outras espécies de arganaz, o do campo apresenta uma característica comportamental diferenciada, ele é monogâmico. Isso significa que muitos machos dessa espécie possuem somente uma parceira sexual durante todo o ciclo reprodutivo, muitas vezes durante toda a vida. Essa é uma característica bem peculiar, a maioria de espécies de mamíferos, são poligâmicos, ou seja, apresentam várias parceiras sexuais durante o ciclo reprodutivo. Mas por que o arganaz-do-campo apresenta um comportamento monogâmico, enquanto a maioria dos mamíferos apresentam um comportamento poligâmico?

Para responder essa pergunta pesquisadores apresentaram três hipóteses diferentes, a primeira é que foi descoberto que quando o arganaz-do-campo copula certo número de vezes com uma fêmea, ele libera um hormônio chamado vasopressina. Quando esse hormônio é liberado no organismo dos indivíduos, ele é levado pela corrente sanguínea até uma região na base do cérebro chamada de região do pálio ventral, essa região é responsável por promover sensações reforçadas a certos comportamentos.

O cérebro do arganaz-do-campo apresenta um grande número de receptores de vasopressina, quando a região pálio ventral é estimulada pela vasopressina, o animal recebe um feedback positivo. Os pesquisadores acreditam que esse circuito de recompensa encoraja o macho a permanecer ao lado da sua parceira, formando um vínculo social a longo prazo. Outas espécies de arganaz apresentam um número menor de receptores na região pálio ventral, tornando seu sistema de recompensa diferente. Dessa forma quando o animal copula seu cérebro não apresenta o mesmo tipo de feedback, fazendo com que ele não crie vínculos duradouros com as fêmeas.

A segunda hipótese é que o vínculo social a longo prazo apresentado pelo arganaz-do-campo está diretamente ligado a questões genéticas. Era sabido que os receptores de vasopressinas eram codificados por um determinado gene, que estava ausente nas espécies de arganaz poligâmicos. Os pesquisadores conseguiram introduzir cópias adicionais desse gene diretamente nas células da região pálio ventral dos machos. E os machos geneticamente modificados apresentaram um vínculo ainda mais forte com suas fêmeas.

A terceira hipótese está relacionada com evolução, pesquisadores sugerem que no passado, machos que apresentaram vínculo forte de apego a suas parceiras deixaram mais descendentes, pois apresentariam um maior sucesso reprodutivo, uma vez que esses machos mantêm suas parceiras sob vigilância, dessa forma ela não copula com outros machos e seu parceiro garante a paternidade de toda prole.

Fonte: Livro de Comportamento Animal, 9° edição – John Alcock