Bebês do interior de São Paulo expostos à Zika durante a gestação nasceram sem microcefalia e médicos ainda não sabem explicar porquê

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Da relação entre Zika vírus na gravidez e microcefalia fetal, ninguém mais duvida. Entretanto, novas pesquisas sobre a epidemia que já é considerada “um dos mais importantes desafios da ciência brasileira” na atualidade vêm mostrando novos resultados nessa equação que, ao que parece, ainda têm suas incógnitas.

Um estudo, ainda em andamento, desenvolvido em coorte prospectiva por pesquisadores da Famerp, em São José do Rio Preto, acrescentou a essa discussão um dado, no mínimo, curioso. Das 55 gestantes infectadas pelo Zika acompanhadas no estudo, TODAS não somente levaram a gravidez até o fim, como geraram bebês SEM nenhuma alteração neurológica grave e MUITO MENOS microcefalia.

Para quem não sabe, um estudo em “coorte prospectiva” acontece quando um grupo de pessoas com uma mesma característica é acompanhado por um período longo o suficiente a fim de que que se tracem as possíveis relações entre essa característica e o resultado final na saúde desses indivíduos. Neste caso, à despeito do atributo comum dos fetos – todos expostos ao Zika – o desfecho, também comum, foram bebês com alterações congênitas tão pequenas e sintomas tão sutis, que teriam “passado batido” nos serviços de saúde.

O que chama a atenção nesse fenômeno, obviamente, é a discrepância em relação a outras partes do país. No Rio de Janeiro, por exemplo, de 125 gestantes estudadas, quase metade teve algum desfecho adverso, desde bebês microcefálicos até aqueles que sequer chegaram a nascer. Já um outros estudo de dois meses de duração num hospital público em Salvador, entre gestantes com e sem Zika, registrou uma taxa de pelo menos 10% de recém-nascidos com alguma alteração neurológica grave ou microcefalia.

Sendo assim, os pesquisadores agora concentram suas atenções na busca das variáveis que levam a esses resultados tão diferentes do padrão visto até o momento. Como outros estudos já descartaram a ideia de supostas diferenças genéticas no vírus entre regiões, o alvo das investigações atuais é o hospedeiro humano.  A hipótese a ser analisada no momento é a de que tanto fatores genéticos nas gestantes quanto exposições prévias a outros vírus possam reduzir ou potencializar o risco de microcefalia nos bebês expostos ao Zika.

fapesp /  bv.fapesp