Artigo revela que somente em território americano, mais de 80 espécies de animais estão com a integridade ameaçada por conviver com gatos

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POR QUE MANTER SEU GATO DENTRO DE CASA?

Já falamos aqui sobre, pelo menos, duas vantagens da criação indoor. A primeira, que gatos que vivem estritamente domiciliados têm uma média de expectativa de vida muito maior (15 a 20 anos) do que aqueles que vivem de forma livre ou semi-livre (2 a 4 anos). E a segunda é que, nas ruas, a probabilidade de contração de doenças como o caso da epidemia de esporotricose que preocupa a população carioca. Mas, por incrível que pareça, manter seu animal dentro de casa não é apenas uma questão de bem-estar animal ou de saúde pública. É também uma séria questão ECOLÓGICA.

Um estudo desenvolvido pelo Wildlife Center of Virginia, nos traz uma informação alarmante: populações inteiras de mais de 80 espécies de animais podem estar sendo dizimadas por eles mesmos. Nossos adoráveis gatos domésticos.

DE CAÇADOR A CAÇA: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA

Apesar de hoje os gatos viverem entre nós por razões majoritariamente afetivas, essa ideia de “animal de estimação” é recente. Assim como os cães, os gatos foram introduzidos no convívio humano por razões estritamente utilitárias que, neste caso, giravam em torno de suas habilidades de caça, muito úteis para as recém-dominadas práticas agrícolas. Pequenos roedores atraídos naturalmente acabaram por se tornar verdadeiras pragas que ameaçavam a produção. Entretanto, essas mesmas pragas atraíam, por sua vez, os gatos selvagens que circundavam estes locais, o que era vantajoso para os agricultores, mas não apenas para eles. Alguns desses animais tinham um temperamento dócil, entrando e saindo das habitações humanas. Estes acabaram por ser selecionados artificialmente, e gradativamente abandonaram os campos, passando a viver junto dos seres humanos.

O problema é que o mundo mudou, mas os gatos, não. Aceite o fato que, por mais “fofinho” que seu gato possa parecer, ele ainda é, sim, um “serial killer” em potencial, que, se em condições naturais era mantido sob controle por intempéries e por uma condição ingrata de predador e presa, agora goza das regalias de uma alimentação disponível em tempo integral – o que não vai impedir que ele continue caçando – ,da temperatura estável de uma cama quente e da quase que total despreocupação com a iminência de ataques por animais de maior porte, um ambiente perfeito para que ele apenas cumpra o seu ciclo: nascer, crescer e…reproduzir-se.

A eficácia das habilidades caçadoras, aliadas à suscetibilidade destes animais a algumas doenças e à rapidez com a qual se multiplicam no ambiente fizeram com que estes animais, em alguns países, passassem de contentores de pragas para as próprias pragas.

OS NÚMEROS NÃO MENTEM

Dos mais de 20.000 animais que deram entrada no Wildlife Center of Virginia e que serviram de amostragem para a pesquisa, a interação com gatos foi a segunda maior responsável pela internação de pequenos mamíferos e pela morte de aves. Quase 90% destas interações ocorreram entre a primavera e o verão nos Estados Unidos, meses mais quentes quando estimulam o período reprodutivo nos felinos domésticos, provocando alterações comportamentais importantes.

É óbvio que não estamos aqui a promover um boicote aos gatos. A nível mundial, eles já superam os cães em popularidade, e qualquer gateiro conhece bem os motivos para isso. O que não se pode permitir é que essa superação que os gatos têm alcançado sobre todo o preconceito e o misticismo construídos historicamente sobre eles gere efeitos negativos para toda uma sociedade. Não estamos incentivando a “não-posse”, mas sim a posse responsável, já que, embora não possamos culpar os animais pelos danos que eventualmente possam causar ao meio onde vivem, serão eles quem sofrerão as consequências das medidas implementadas para sanar esses danos. Antes de protestar contra métodos considerados cruéis de controle populacional, precisamos atentar se não são os frutos de nossa própria negligência que estão dando ensejo para que tais medidas sejam tidas como necessárias. Afinal, o animal que está dentro da sua casa é um problema seu. Fora dela, vira um problema de todo mundo.

Fonte: Dave Mcruer et al
Imagem: jzjdm