Um tabu social universal: O incesto é uma questão biológica ou social?

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“O incesto é somente prejudicial na nossa espécie ou há relatos do mesmo problema genético em outras espécies? Sei que no reino animal tem espécies que o incesto é bastante comum. ” (Karoline França)

Observação: As opiniões expostas no texto são baseadas em estudos científicos. Em nenhum momento defendemos a prática do incesto, nem mesmo consideramos que algumas das opiniões expressas condizem com as crenças do autor.

Karoline, essa é uma questão complexa e polêmica! Primeiramente, o incesto não é exatamente um problema genético, ou mesmo biológico. É verdade que e endogamia (cruzamento entre indivíduos aparentados) aumenta em certo grau a probabilidade de anomalias e doenças ligadas a genes recessivos. O cruzamento entre indivíduos de grupos diferentes aumenta a variabilidade genética e elimina a possibilidade de que sejam transmitidas anomalias genéticas às gerações seguintes. No entanto, estatisticamente estamos falando de uma variabilidade muito baixa. Ou seja, não dá para justificar o incesto como algo “prejudicial” biologicamente a ponto de ser rejeitado pela própria natureza. O incesto inclusive pode ter vantagem em algumas espécies, como evitar comportamentos agressivos na competição de machos pelas fêmeas ou em termos de manter determinadas características genéticas nos grupos de espécies. Então, porque o incesto é visto como um tabu?

Para explicar isso, entraremos em campos que ultrapassam a Biologia. Vários antropólogos e sociólogos colocam o incesto como uma invenção social, mais precisamente como uma necessidade de espécies que se organizam em sociedade. É comum em todas as sociedades humanas (e em várias sociedades animais, como os chimpanzés) que se evite a relação entre indivíduos aparentados. Apesar das variações entre aquilo que se considera como incesto, este conceito é universal: há sociedades que consideram asqueroso o envolvimento entre irmãos, pais e filhos, entre primos ou entre filhos adotivos, ou mesmo entre todos estes. O que há em comum é que todas elas abominam algum tipo de relação entre parentes próximas. Mas sabemos que este envolvimento ocorre, mesmo que silenciosamente, e apesar de parecer estranho para todos nós, se o horror ao incesto fosse de origem natural não haveria o desejo de praticá-lo, logo não seria necessário proibi-lo.

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Estudiosos como Lévi-Strauss e Freud colocam que a questão do incesto é uma necessidade para a organização social. Se aqueles que estão mais próximas entre si praticassem seus desejos sexuais, logo haveriam relações apenas entre grupos isolados ou mesmo com a ausência de laços afetivos as relações sociais tenderiam a se desorganizar, não havendo relações de parentesco bem definidas e talvez voltando-se a tempos de dominação por força e barbárie. Em termos sociológicos, podemos dizer que a troca entre pessoas de famílias diferentes traz consigo relações vantajosas, pois ao casar-se com alguém, automaticamente novas relações com a família do(a) parceiro(a) são criadas. Há também questões religiosas, morais e religiosas que interferem para que haja todo esse respeito para com os consanguíneos e proíba a relação entre si. No entanto, historicamente, sociedades indígenas ou mesmo famílias da nobreza em tempos medievais casavam filhos e primos para manter as suas variáveis relações de poder.

Enfim, o incesto é muito comum em outras espécies, mas não tão comum naquelas espécies que tem organização social e vivem em comunidade. Isso ocorre não por uma proibição da natureza, mas por uma necessidade de organização social e, em nosso caso, cultural. Certo ou errado? É difícil dizer. Apenas é importante refletir que enxergamos a partir da sociedade na qual estamos inseridos…

Fontes: reflexaogeral/ noticias.terra./ psicologia/ permanencia/ biologiaevolutiva/ psiqweb
Imagens: Reprodução/purebreak/ velhochico