Especialistas garantem que plantas não tem consciência e não sentem dor

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Antropomorfismo é o termo que define a atribuição de características essencialmente humanas a seres de outras espécies. Fazemos isso o tempo todo quase sem perceber, e isso não é de todo ruim nem anormal. Afinal, levando em conta que a busca pelo desconhecido sempre parte daquilo que já conhecemos, a tendência a medir a experiência alheia a partir da nossa própria não somente é natural como benéfica, até certo ponto. É exatamente isto que nos torna empáticos e capazes de compreender, pelo menos um pouco, o que se passa no interior daqueles a quem só nos é permitido ver o que eles mostram na superfície.

Por outro lado, se mesmo quando se trata de outros seres humanos isso nem sempre é tão eficaz, por que nos espantaria o fato de isso acontecer, em proporção ainda maior, com os seres de outras espécies? Até porque uma das lições intrínsecas na Árvore Evolutiva de Darwin é justamente esta; que, embora todas as formas de vida provenham da mesma raiz, as diferenças entre elas também existem na mesma proporção em que seu único tronco se ramifica e se divide. Em suma, a vida é uma só, mas existem diferentes formas de vida e diferentes formas de se viver. Nenhuma espécie é padrão para outra. Não, nenhuma. Nem mesmo a humana.

Entretanto, existem características que não são, de forma alguma, estritamente humanas, embora, mais uma vez, possam ser expressas de diferentes formas. A dor, por exemplo. Qualquer pessoa que tenha um animal de estimação sabe que ele não precisa falar para que você saiba que algo nele dói. Os ruídos que os cães fazem, que nós antropomorficamente chamamos de “chorar”, e mesmo gatos, que costumam ser mais resilientes, podem deixar transparecer a dor física quando andam com dificuldade ou evitam pular ou movimentar-se. Estes e centenas de outros dados parecem não deixar dúvidas que os seres do reino Animal, em geral, sentem e demonstram a dor, e não raro este é um dos motivos que leva algumas pessoas a absterem-se não somente da ingestão de animais, como também do uso destes seres sob qualquer outra forma que a indústria ofereça.

Como sabemos, somente a vida pode sustentar a si mesma. Assim sendo, estas pessoas voltam-se então para outros grupos de seres em que basear sua nutrição, sendo estes, em regra, integrantes dos reinos Vegetal e Fungi. É precisamente aí que podem surgir alguns questionamentos que não deixam de ser pertinentes e válidos. Afinal, se plantas realmente também sentirem dor, este deixa de ser um motivo válido para optar por uma dieta em detrimento de outra. E até onde sabemos, as plantas crescem, desenvolvem-se e respondem a certos estímulos e possuem mecanismos de defesa como qualquer outro ser vivo. Já existem até mesmo estudos que comprovam a existência de uma curta memória de trabalho em algumas espécies de plantas, tornando-as capazes de armazenar informações sobre um determinado agressor, e responder a ele num intervalo de alguns segundos após o estímulo. Fica então o questionamento: seriam as plantas capazes de sentir dor?

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Segundo o biólogo Daniel Chamovitz, reitor de Ciências da Vida da Universidade de Tel Aviv, em Israel, autor do livro “What a plant knows: A field guide to the senses of your garden-and beyond”, os que adotam uma dieta vegetariana ou vegana não precisam se preocupar com isso. Chamovitz explica que os mecanismos de resposta a estímulos presentes nas plantas tratam-se justamente daquele terreno comum a todos os seres vivos que falamos a princípio. Conscientes disso ou não, todos os seres vivos são programados para tentar sobreviver a qualquer custo. A ramificação, neste caso, acontece precisamente no fato deste ser estar ciente disso ou não, o que, segundo ele, não acontece com as plantas. Sentimos dor porque dispomos de células de nocicepção, ausentes, segundo ele, nos seres do reino Vegetal. Mesmo seres humanos nas quais estas células não funcionem adequadamente podem, eventualmente, sentir estímulos mecânicos, mas não dor. Assim, quando você corta uma planta, ela pode dispor de meios de resistência como qualquer outro ser vivo, mas isso não significa que ela esteja sofrendo com isso.

Talvez seja difícil para nós compreendermos essas peculiaridades de outras espécies. Mas é justamente disso que trata a Biologia. É impossível compreender as outras formas de vida apenas baseando-se na nossa própria forma de viver. Nossos padrões apenas ajudam, mas não são absolutos. Eles apenas servem de base para compreendermos as outras espécies até o momento em que o tronco se ramifique. Talvez, essa seja a chave para que consigamos conviver em harmonia aqui mesmo, dentro de nossa própria espécie. A despeito da dieta que cada um tenha ou deixe de ter, a preocupação com outros seres, animais ou vegetais, só poderá fazer sentido quando ela já existir de Homo sapiens para Homo sapiens. Afinal, pense: faz sentido para você usar o desrespeito como arma contra alguém de sua própria espécie, enquanto luta por respeito a seres de espécies diferentes?

Sites: anda/ vice
Livro: What a plant knows: A field...
Imagens: Reprodução/anda/ brasilpost