Formação musical ainda na infância tem importância decisiva no desenvolvimento cerebral

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Enquanto em muitos países desenvolvidos a música é item obrigatório na grade curricular desde sempre, aqui em nosso país esta realidade só está sendo revista agora, após mais de 30 anos sendo tratada como um item supérfluo na formação de uma pessoa. Em meados da década de 80, a disciplina de música foi retirada das escolas brasileiras. E hoje, as descobertas científicas já estão denunciando o quanto essa iniciativa só nos trouxe prejuízos.

A perda de identidade musical é, certamente, um item importante nesta discussão. Mas, falando em ciência, o que queremos abordar aqui diz respeito à essência do próprio desenvolvimento humano, do que define que uma disciplina seja escolhida em detrimento de outras. Ainda que você nunca use Teorema de Pitágoras em sua vida, todos os processos envolvidos no aprendizado deste e de todos os conceitos de Matemática e das demais disciplinas colaboram na execução do propósito final da educação como um todo: a formação holística de um indivíduo autônomo, com base intelectual e moral suficiente para tomar decisões sábias em todos os momentos e áreas de sua vida.

E no meio de tudo isso, por que a música continua ficando de fora? Porque ela continua sendo vista como algo necessário apenas para quem, um dia, pretende ser músico. Como se ela não contribuísse na formação geral do indivíduo. Essa ideia, no entanto, vem sendo positivamente confrontada. Um estudo realizado com 36 músicos com o mesmo tempo de profissão e publicado no Journal of Neuroscience, mostrou que à semelhança do leite materno no sistema imunológico, o estudo de teoria musical exerce papel decisivo no desenvolvimento cerebral de uma criança.

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Concluiu-se que, dos dois grupos numericamente iguais em que esses voluntários foram divididos, aqueles que aprenderam música ainda na primeira infância apresentavam maior desenvolvimento nas fibras da massa branca do cérebro, que liga as regiões motoras dos dois hemisférios. O resultado: uma rapidez e precisão de movimentos notória em relação ao segundo grupo. Este, formado por profissionais que aprenderam música em outras idades, além de não demonstrar a mesma segurança e rapidez de movimentos que os primeiros, não apresentavam diferenças cerebrais importantes se comparados com pessoas que NUNCA estudaram música na vida.

A música reúne em si mesma conceitos que põem em prática todas as ciências, desde a linguagem até a matemática. E se já conhecíamos seus efeitos psíquicos, agora sabemos que eles se estendem ao campo biológico. Para esta vastidão do alcance musical, o arteterapeuta Arthur Drischel, que tem a música como a base de seus tratamentos, dá a seguinte explicação: “Tudo o que acontece na mente afeta o corpo e vice-versa. A música é, indiscutivelmente, o produto artístico mais intrigante. Ela passa direto pelas defesas psíquicas humanas. É um mistério intangível e ao mesmo tempo, uma das ferramentas mais poderosas de comunicação que existe.”

Desde 2008, a lei 11.769 já institui que a música volte a fazer parte obrigatória dos currículos escolares. No entanto, ainda enfrentamos dificuldades para a implementação dessa medida, e a mais forte delas ainda é a falta de profissionais capacitados para ensiná-la.

Fontes: jneurosciportal.mec/ Artigo: Afinação Psíquico-Corporal: do som pessoal ao com coletivo, por Arthur Fernando Drischel..  Imagens: Reprodução/gastro/ diesemusical