Pessoas estão perdendo noção do tempo e desregulando o relógio biológico por causa da iluminação artificial das grandes cidades

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Nova Iorque, assim como os demais grandes centros urbanos, nunca dorme. E pelo que parece, as pessoas que vivem nesses lugares também não. Pelo menos, não como deveriam. Basta entrar no ônibus pela manhã, que a cena é sempre a mesma. Pessoas dormindo nos bancos, ou mesmo em pé, revelam uma população que dorme mal. E as estatísticas comprovam o que a experiência já está dizendo há muito tempo. Uma pesquisa feita em São Paulo mostra que pelo menos um entre cada três paulistanos não dorme como deveria, o que está ligado ao excesso de estímulos que recebemos a todo instante nessas grandes cidades.

Nem precisa dizer que essa realidade, para o nosso corpo, é péssima. Se nosso cérebro não descansa, o resto do organismo também não. Não é à toa que uma série de outros distúrbios decorrem dessa falta de descanso. Seres humanos, assim como os demais seres vivos, são como máquinas autorreguladas. Significa que, por si mesmo, o corpo executa atividades de controle e manutenção para garantir o seu bom funcionamento. Parte por parte, órgão por órgão, essas atividades repetem-se de forma ordenada e diariamente, num ciclo que dura o tempo de um dia, ou seja, 24 horas. É o chamado ciclo circadiano, responsável pelo que conhecemos como “relógio biológico”. Acontece que ele depende diretamente do sono para acontecer, e este, por sua vez, precisa do ciclo luz e escuridão, sons e silêncio, para ser estimulado.

Se você ainda duvida, veja, por exemplo, o que aconteceu com o casal Josie Laures e Antoine Senni. Na década de 1960, eles foram cobaias numa experiência onde cada um viveu em uma caverna durante meses. Sem calendário, sem relógio, sem janelas ou qualquer outra pista do que estivesse acontecendo do lado de fora, inclusive se estava amanhecendo ou anoitecendo. O resultado foi que não somente houve uma completa desregulação de seus relógios biológicos, como eles sofreram também uma total perda de noção de tempo. Senni, muitas vezes, chegou a dormir por períodos de mais de 30 horas seguidas e, quando finalmente acordava, pensava ter apenas cochilado. E quando saíram, por fim, pensaram ter passado muito menos tempo do que havia transcorrido de fato.

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A questão da influência da luz no nosso cérebro já é um fato tão conhecido, que mesmo algumas empresas se aproveitam desse artifício para aumentar a produção. Cercadas de janelas fechadas e luzes fluorescentes acesas em tempo integral, os funcionários acabam por perder a noção de quando é dia ou noite, ficam hiperestimulados e trabalham mais. Mesmo quando se trata de plantas, já existem técnicas que, quando bem manejadas, permitem que elas façam fotossíntese somente com luz artificial. Isso por si só já é suficiente para que entendamos, de uma vez por todas, o quanto os fatores do ambiente têm influência no funcionamento da vida.

Ninguém precisa passar horas na academia ou pegando no pesado para saber o quanto esse esforço constante e sem controle é prejudicial. Mas, infelizmente, quando se trata da nossa mente, demora-se mais para perceber isso, afinal, o cérebro não dói. Com ele, o trabalho se dá de forma muito mais passiva, e por isso, convém sempre lembrar: se você está vendo qualquer coisa, ou ouvindo qualquer coisa, ou recebendo qualquer outro tipo de estímulo, SEU CÉREBRO ESTÁ TRABALHANDO.  Se você quer que seu corpo descanse, é exatamente nele que esse repouso precisa começar. Por isso, não importa se o seu horário de descanso é de dia ou à noite. Deixe o seu cérebro saber disso simplesmente não dando mais nada para ele fazer. Desligue a TV.  Tire o fone do ouvido. E até por uma questão de economia, não esqueça: apague a luz.

Fontes: hypescience/infoescola   Imagens: ultradownloads/trrst/saude.terra