“Tive malária. Se eu doar sangue o que acontece com o receptor? Posso ser doador de medula?”

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“Eu sempre quis doar sangue (sou O-), mas tive malária quando criança. É verdade que não posso doar sangue? E se por acaso, em situações extremas, alguém precisasse de uma transfusão e eu fosse compatível. O que aconteceria com o receptor? (Isso também se aplica na doação de medula?) – Magno Abreu

Bem, Magno, a notícia que tenho é um pouco desanimadora: infelizmente, você não pode doar sangue! E isso é muito triste, pois doar sangue é um ato de ajuda ao próximo, e muitas pessoas precisam. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) o ideal seria que 5% da população doasse sangue, mas no Brasil temos apenas 2%. Por isso, os hemocentros estão sempre com falta de alguns tipos sanguíneos, principalmente de tipos como o seu, O negativo, essenciais para salvar muitas vidas, pois pode ser doado para qualquer pessoa (doadores universais – saiba mais, clique). E apesar de 45% das pessoas possuírem sangue tipo O, menos de 10% delas possuem fator Rh negativo. Apesar disso, o número de doadores se torna ainda menor por causa de alguns fatores de risco a saúde, pois teme-se que doenças transmissíveis, virais, bacterianas ou parasitárias, como o HIV, a hepatite, a malária, a Doença de Chagas, dentre outras, possam prejudicar a saúde do receptor.

Em termos gerais, Magno, o que aconteceria é simples de entender: o doador que possui um problema de saúde como este pode infectar seu receptor. Por isso, todo cuidado é pouco! Causada por um parasita, a doença infecciosa malária tem parte de seu ciclo de vida no mosquito Anopheles, que, ao picar o homem, transmite o parasita, que se multiplica em nossas células sanguíneas. E muitas doenças infecciosas possuem janelas imunológicas, que não permitem identificação prévia. Isso quer dizer que, durante algum tempo, uma pessoa contaminada com malária ou HIV, por exemplo, pode não sentir nenhum sintoma, e mesmo que se realize exames nenhuma alteração será identificada. No caso do HIV, durante 3 meses, os testes podem não identificar o vírus, mas a pessoa tem potencial de transmiti-lo a seus parceiros sexuais. Já a malária, pode ter um período de incubação de 7 a 28 dias.

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Por isso, alguns cuidados são tomados por órgãos responsáveis pela saúde: uma triagem clínica, epidemiológica e laboratorial rigorosa é realizada, onde, além dos exames médicos e testes para a identificação de doença, análises do histórico e hábitos de vida (por meio de questionários) do paciente também são realizados. É muito importante ser sincero nas respostas! Se você viajou, por exemplo, para regiões onde a malária é recorrente, como é o caso da região amazônica, também é recomendado que espere-se alguns meses para doar sangue, pois 98% dos casos de malária ocorrem nessa região. No caso de risco de infecções por DST, se você tem mais de um parceiro sexual no ano, é importante esperar também 12 meses para doar.

Bom Magno, mesmo em situações extremas, ter compatibilidade de tipo sanguíneo não significa que será possível a doação. E, além do caso da malária, outras restrições permanentes e provisórias, infelizmente, são necessárias para garantir a saúde dos pacientes: além das doenças citadas, pessoas que fizeram recentemente tatuagens, uso de drogas, cirurgias e partos devem esperar alguns meses para poder doar sangue. Além disso, para garantir a saúde do doador, homens devem esperar no mínimo 3 meses, e mulheres cerca de 4 meses, para doar sangue novamente, sendo necessário que o doador tenha entre 16 a 69 anos, e pese mais de 50 quilos. E no caso de doação de medula óssea, é a mesma coisa Júnior: apesar da dificuldade extrema em se encontrar um doador de medula compatível (a probabilidade é de 1 em 100 mil), o doador não pode ter nenhuma doença infecciosa ou incapacitante. Infelizmente, são medidas de precaução Magno.

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Fontes: drauziovarella/inca/bssp/prosangue/sempretops/drauziovarella/inca/webartigos   Imagens: hypecience/sanguenativo/eshoje