Como eram os tratamentos psiquiátricos antes de surgirem os medicamentos? Conheça a sombria técnica de lobotomia

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O sistema nervoso humano é um dos mais complexos, sendo constituído por estruturas especializadas, mas que interconectam entre si. Uma de suas principais partes é o córtex, onde há o processamento neural, e que possui funções importantes relacionadas a memória, a atenção, a consciência, a linguagem, a percepção e o pensamento. Cada um dos hemisférios do cérebro possui quatro partes, chamadas de lobos: occipital (ligado a visão), parietal (ligado às sensações e orientação do corpo), frontal (ligado a fala, pensamento, atividade motora e planejamento) e temporal (ligado às emoções e à memória). Muitos estudos têm sido realizadas no campo da neuroanatomia, mais especificamente na neurociência, buscando explicar a constituição estrutural e química do cérebro, compreendendo suas funções e patologias.

Há tempos busca-se curas para transtornos mentais. Frequentemente usa-se em fármacos, os conhecidos antidepressivos/ansiolíticos, para controlar doenças como depressão, bipolaridade, esquizofrenia, psicoses, dentre outras. Porém, não faz muito tempo que os tratamentos psiquiátricos eram bem mais assustadores! A lobotomia consistiu em uma série de práticas neurocirúrgicas frequentemente utilizadas em meados do século XX, visando a retirada de parte do cérebro (geralmente a pré-frontal) para “curar” doenças mentais. No entanto, ao danificar determinadas regiões do cérebro ligadas às doenças, o paciente tinha outras funções danificadas, como a fala, os sentimentos ou os movimentos, chegando alguns a morrerem durante ou pouco tempo após a cirurgia. Isso por que cada parte do cérebro é especializada em uma função, ao remover-se a parte em que está o “foco” da doença, prejudica-se também outras funções que a ela se relaciona.

Mas como eram realizadas as lobotomias?

Os primeiros procedimentos consistiam em furar o crânio do paciente e destruir os tecidos que ligavam os lobos frontais ao cérebro, removendo-o. Com o tempo as técnicas foram aprimorando-se, criando-se instrumentos como o leucótomo (uma espécie de arame, que ao ser rodado, lesionava a parte de interesse no cérebro), além de técnicas como a lobotomia transorbital, que consistia em acessar os lobos frontais por meio das órbitas (cavidade onde fica os olhos) com a ajuda de um aparelho semelhante a um “picador de gelo”. A invenção da técnica foi creditada ao médico português Antônio Egas Moniz, um dos ganhadores do prêmio Nobel de Medicina em 1949 (apesar da tentativa, sem sucesso, de revogar tal creditação), sendo amplamente aplicada nos Estados Unidos, que registrou cerca de 50.000 lobotomias.

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Atualmente a lobotomia é ilegal e reconhecida como um dos episódios mais tristes da psiquiatria moderna, pois, além de causar a morte ou debilitar milhares de pessoas com transtornos mentais, também foi utilizada como “cura” para homossexuais nos campos de concentração nazista, já que estes também eram preconceituosamente considerados como doentes. Mas, apesar das graves consequências e histórias, em alguns casos extremos, a lobotomia ainda pode ser utilizada, como nos tratamentos de epilepsia grave ou câncer, em que regiões muito restritas do cérebro são removidas quando nenhuma outra forma de tratamento obteve êxito, ou seja, a lobotomia é utilizada apenas como último recurso.

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 Fonte: livescience/super/hypescience/saude/infoescola  imagens:neuromorphogenesis/vetneuro/howstuffworks/lobotomy