Por que não conseguimos lembrar as coisas de quando éramos bebês?

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“Por que não conseguimos lembrar as coisas de quando éramos bebês? ” (Gerson Santos)

Em se tratando de recordações de fatos ao longo da vida, é importante enfatizarmos que há dois tipos de memória de longo prazo: a memória explícita ou declarativa e a memória implícita ou não-declarativa.  A memória explícita é aquela que pode ser declarada como fatos e experiências. Já a memória implícita inclui habilidades de aprendizagem como andar de bicicleta.

Quanto a sua dúvida Gerson, o fato de não recordarmos de coisas de quando éramos bebê, é conhecido como fenômeno da amnésia infantil ou amnésia da infância.

O cérebro de bebês desenvolve-se de forma muito rápida. Para entendermos melhor esse acelerado processo, estudos revelam que o cérebro de uma criança ao nascer pesa cerca de 25% do peso que terá na fase adulta. Surpreendentemente, em dois anos, o peso do cérebro aumenta 75%. Contudo, nem todas as áreas do cérebro desenvolvem-se ao mesmo tempo, incluindo as regiões da memória explícita ou memória declarativa. As células que constituem uma grande área do cérebro, especificamente o hipocampo, responsável pela memória explícita, são formadas no final da gestação. Porém, as células que compõe regiões associativas, só amadurecem entre 12 e 15 meses de vida. Dessa forma, é possível compreender que, durante os dois primeiros anos de vida, ocorrem alterações em áreas cerebrais extremamente significativas envolvendo a memória. Assim, podemos compreender as razões que nos impedem de recordar de fatos da época em que éramos bebê.

Nos primeiros anos há indícios de que a memória está mais associada a tarefas de comando e com pequeno intervalo. Os bebês são capazes de recordar fatos do passado, mas de uma maneira diferente das crianças e dos adultos. A partir dos 3 meses o bebê já é capaz de apresentar uma memória denominada de imitação diferida. Um exemplo é quando o bebê observa um estímulo alvo e, após um intervalo de tempo, é capaz de reproduzi-lo. Esse evento demonstra que o bebê foi capaz de apresentar sinais de memória, armazenando um estímulo.

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 Foto [Beyoncé]: Reprodução/ milesott
Segundo estudos recentes utilizando a imitação induzida para avaliar a memória explícita no primeiro de vida, foi constatado que, com o aumento da idade, os bebês são capazes de manter a lembrança por período cada vez mais prolongado. Aos 9 meses de idade o bebê apresenta lembranças de eventos por 24 horas;  aos 9 meses de idade, por um mês e aos 20 meses, as lembranças podem durar até um ano. Esse processo é explicado por meio das estruturas cerebrais que, aos 20 meses de idade, já se encontram funcionalmente maduras, permitindo um aumento da capacidade de lembrança em bebês nesta fase. No decorrer do segundo ano de vida, há um progresso contínuo de formação de sinapses (comunicação dos neurônios) em áreas cerebrais correspondentes a memória.

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 Foto [Brad Pitt] : Reprodução/primiciasya

Recentemente, cientistas descobriram que a maioria das crianças com 3 anos conseguem se recordar de muitos fatos ocorridos no último ano, persistindo até os 6 anos. No entanto, por volta dos 7 anos de idade, o fenômeno da amnésia infantil tende a se repetir com um rápido declínio da memória. De acordo com as novas descobertas, a maioria das crianças com idade entre 7 e 9 anos só conseguem se recordar de 35% dos fatos ocorridos até os 3 anos de idade. Os psicólogos revelam que a explicação decorre da existência de alterações no processo de formação da memória nessa fase de vida.

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 Foto [Paris Hilton]: Reprodução/hollywoodtv
Fontes: vox e telegraph  CARNEIRO, M. P.. Desenvolvimento da memória na criança: O que muda com a idade. Psicologia: Reflexão e Crítica.  DIAS, L. B. T.; LANDEIRA-FERNANDEZ, J. Neuropsicologia do desenvolvimento da memória: da pré-escola ao período escolar. Neuropsicologia Latinoamericana. PATHMAN, T.. Memória e desenvolvimento inicial do cérebro. 2013Este texto é de autoria da Bióloga Ceila Cintra.