De uma vez por todas: por que o Criacionismo não é ensinado nas escolas?

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Para muitas pessoas, ciência e religião são como óleo e água; não se misturam. Para estas, a lógica da ciência não pode conceber a ideia de qualquer força sobrenatural envolvida nos fenômenos. Eles são naturais, e ponto. Logo, compreender isso implica, necessariamente, em descrer de qualquer forma de religião. Mas não é bem assim que a banda toca. Se analisarmos com cuidado os registros históricos, veremos que muitas das personalidades que se destacaram na ciência tinham lá suas convicções religiosas, embora, obviamente, nem sempre estas se coadunassem com as nossas ou mesmo com qualquer sistema religioso institucionalizado.

Albert Einstein mesmo foi um desses exemplos. Apesar de ser família judia, ele não acreditava num deus pessoal, contrariando frontalmente o sistema de credos no qual foi educado. No entanto, tampouco era ateu. A mesma lógica científica que leva muitos a descrerem de um poder superior, era para Einstein evidência de uma inteligência intangível que era, então, desvendada pouco a pouco pela ciência.

Um outro exemplo de cientista que não descria absolutamente da religião foi Isaac Newton. Na verdade, este talvez seja o que mais se aproxima do cristianismo convencional. Newton não somente acreditava na Bíblia, como gastava horas estudando-a, especialmente os livros de Daniel e Apocalipse, sobre os quais inclusive chegou a escrever algumas obras. Na verdade, há quem afirme que Newton deixou mais material escrito sobre religião do que propriamente sobre ciência.

Fora estes, nós poderíamos citar diversos outros exemplos como Leonardo daVinci, Thomas Edison, Alessandro Volta, Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, e mais uma infinidade de nomes de personalidades que, se não foram propriamente cientistas, em algum momento desenvolveram algum trabalho que contribuiu para o conhecimento científico, sem, contudo, significar obrigatoriamente que não tivessem crenças religiosas ou fossem ateus. Mesmo Charles Darwin, o nome mais lembrado quando se fala de ateísmo relacionado à ciência, NUNCA foi ateu. Na verdade, Darwin passou a maior parte da sua vida acreditando no Deus convencional, terminando a sua vida como agnóstico – aquele que questiona a existência de Deus. A pergunta que fica é: por que isso não é falado nas escolas? A resposta é muito simples. Pelo mesmo motivo pelo qual não se fala sobre a crença dos demais cientistas que eventualmente pensavam diferente destes citados: não interessa. Pelo menos, não para o ensino de ciências.

Se você der uma rápida analisada em qualquer livro didático de qualquer área científica ensinada nas escolas regulares, seja ela Química, Física ou Biologia, vai perceber um ponto comum. Todos começam falando sobre o método científico, a maneira pela qual o cientista organiza o seu pensamento a fim de compreender os fenômenos naturais. E há um motivo simples para este ser o assunto inicial destes livros: ter passado por todas as etapas do método científico é o crivo, o padrão utilizado pela comunidade científica para que uma tese seja, de fato, considerada ciência. Qualquer hipótese precisa ter vindo de observação, e acima de tudo, precisa ser testada e comprovada de maneira passível de ser repetida por toda a comunidade científica para que seja atestada como uma teoria. E é justamente por este motivo que o Evolucionismo é escolhido em detrimento do Criacionismo para ser ensinado nas escolas regulares, a despeito de quase todo o senso comum acreditar na existência de um Ser Superior, independentemente de qual nome você atribua a este ser.

O Criacionismo não é tido como padrão de ensino de Biologia nas escolas regulares porque, goste você ou não da ideia, ele não é capaz de atender a todas as exigências do método científico. Se você fizer um estudo sério no assunto, vai perceber que mesmo os grandes nomes do Criacionismo atual ao mesmo que NÃO discordam de todos os pontos da Teoria da Evolução, admitem também que não existem provas, mas sim evidências de um design inteligente. Acontece que meras evidências não são suficientes para atestar algo como um fato científico, porque elas são passíveis de interpretações individuais. Um bom exemplo disso é o DNA comum a todas as espécies vivas: o que para os evolucionistas é uma evidência de uma ancestralidade comum a todos os seres, os criacionistas interpretam como a “assinatura do autor”.

O propósito do ensino de ciência na escola NÃO é discutir estas questões, mas sim mostrar como qualquer indivíduo, independentemente de sua crença, pode descobrir o que está por trás dos fenômenos através do método científico. Talvez esta seja precisamente a fronteira entre a ciência e a religião, especialmente as que acreditam em alguma forma de deus. A crença religiosa exige fé, ou seja, confiança. Qualquer prova incontestável da existência de um ser superior tornaria a fé absolutamente desnecessária. É a fé que leva o religioso a acreditar naquilo que ele não pode ver a olho nu nem atestar por aparelhos como um microscópio ou uma placa de Petri. É exatamente aí que a Ciência entra: compreender os fenômenos onde a fé não é necessária, e talvez seja aí que, paradoxalmente, ambas se complementam. Seria no mínimo insensato, por exemplo, fazer uso da fé para curar-se de um câncer enquanto se fuma compulsivamente. Ou invocar um ser superior para curá-lo, ao mesmo tempo em que se ignora as recomendações médicas.

Vale lembrar que enquanto a Bíblia sugere a herança de caracteres, Gregor Mendel, como monge, não se contentou apenas com isso. Ele quis observar como isso acontecia, e suas modestas observações de ervilhas no jardim do mosteiro onde morava serviram de alicerce para o que sabemos sobre genética até os dias de hoje. De fato, óleo e água não se misturam e, na verdade, talvez nem precisem. Ambas as substâncias podem ser e são, de fato, úteis para a vida, exatamente assim:  cada uma no seu devido lugar.

Sites:  dw.com / globo Livros: Bio, Sonia Lopes & Rosso, vol.1  / Princípios Integrados de Zoologia, Hickman