Quando a beleza se torna seu principal inimigo. Você vai se indignar com o drama sofrido pelos peixes Betta

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Imagine-se vivendo num quarto minúsculo, onde nada mais há para se fazer a não ser dar voltas e conviver com seus próprios dejetos. Parece até uma história de sequestro, não é? Pois por mais repulsivo que esse tipo de habitat possa parecer a você, é exatamente assim que algumas pessoas acham “normal” criar peixes em casa, e em especial uma das espécies que, por vários motivos, é uma das mais populares do mercado. Estamos falando dos Betta splendens, ou simplesmente, betta.

Além de ser extremamente resistente, o betta é, sem dúvida, um peixe deslumbrante e, num país como o nosso, tem uma característica que o torna especialmente atrativo: é barato. Por uma bagatela (em algumas lojas, não chega nem a cinquenta reais) você leva para casa o que costumam chamar de “kit betta”, composto por: um espécime, a sua escolha, um pacote de pedrinhas coloridas, um envelope pequeno de comida e um “aquário”, além de um folheto com instruções sobre como cria-lo.

E é aí que começam os problemas. Quem diria que justamente os atributos que o tornam tão peculiar, acabariam por se tornar seus piores inimigos (do peixe, não do criador)?! Sim, porque muitos desavisados costumam confundir resistência com conforto. É certo que nós, seres humanos, também somos capazes de nos adaptar a uma série de intempéries. Mas, nem por isso achamos natural nos expormos a todas elas desnecessariamente. Da mesma forma, é preciso compreender que o fato de um animal não morrer tão facilmente, não significa que ele não esteja sofrendo.

Para começar, a palavra “aquário”  lá em cima foi escrita entre aspas propositalmente. Porque o que é comercializado junto com estes animais nem de longe se aproxima disso.  É certo que por sua própria origem, lá nos arrozais da Ásia, vivendo muitas vezes em pequenos regatos ou mesmo poças, o betta não é de se mexer muito. Coloque uma folha, dessas que vendem em pet shops, presa ao vidro, e muito provavelmente, ele passará ali o resto do dia. Mas daí a condená-lo a respirar os seus próprios dejetos pelo resto de sua existência parece um pouco demais, não é?

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Imagine-se vivendo num quarto minúsculo, onde nada mais há para se fazer a não ser dar voltas e conviver com seus próprios dejetos.

Mas o que acontece é exatamente isso. O betta é da ordem dos Anabantídeos. Possui um órgão auxiliar chamado ‘labirinto” que lhe permite respirar o mesmo oxigênio que nós. Ou seja, um gasto a menos com bomba de oxigênio, e temos um cenário perfeito para uma morte prematura: espaço pequeno e água parada.  E se você acha que isso é exagero, tire um minuto para pesquisar na Internet e você se deparará com milhares de casos de “criadores” perdidos com a mudança de comportamento de seu animal. Muitos, em MENOS DE UMA SEMANA, perdem todo o viço que tinham na loja e não poucos morrem em tempo muito inferior ao natural.

Isso sem contar as pedrinhas coloridas, que apesar de serem muito atrativas às crianças, podem soltar tinta, não poucas vezes tóxica aos peixes. Alguns lojistas chegam ao absurdo de orientar seus compradores a simplesmente preencherem o aquário com água da torneira, ignorando que a água que sai de nossos canos é misturada a diversos componentes, e nem sempre de PH neutro, que seria o ideal. E se nós não sentimos essa diferença, o mesmo não se pode dizer do betta.  Independente de quaisquer discussões de cunho técnico, as mudanças no aspecto do seu animal falarão por si mesmas.

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Justamente pelos bettas serem tão baratos, a maioria dos compradores sequer se preocupa em aprender esses itens básicos de criação.

E o pior, meus caros. Justamente pelos bettas serem tão baratos, a maioria dos compradores sequer se preocupa em aprender esses itens básicos de criação.  Afinal, se o peixe morre, basta comprar outro e está resolvido o problema. O anterior muitas vezes é simplesmente jogado no vaso sanitário, ou quando muito, posto numa caixinha de fósforo e jogado no lixo. Assim, como uma coisa. Mas, se pararmos para pensar, será que ele já não foi tratado assim desde o começo? Se levarmos em conta que peixes como ele são chamados de “ornamentais”, palavra esta que quer dizer nada mais que “enfeite”, por aí você já consegue decifrar a resposta.

Fonte: Livro: Bettas: Cria e Reprodução, de Márcio Infante Vieira. 
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