Polêmica: Cientistas defendem que abortar até a 24ª semana não traria dores ao feto

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Observação: Caros leitores, antes de qualquer divagação acerca do polêmico tema aborto, gostaríamos de ressaltar que este texto não busca tomar qualquer posição sobre o tema. Tão pouco incentivamos o aborto em qualquer fase da gestação, seja ela inicial, ou final. As reflexões expostas buscam apenas informar sobre pesquisas recentemente realizadas, além de proporcionar alguns questionamentos comuns ao campo das ciências biológicas.

Quando começa a vida? Quando deixamos de ser um “aglomerado de células” e passamos a ser um indivíduo com consciência? Abortar é correto? E se for, até que período da gestação poderíamos fazê-lo sem ressentimentos? Estas são algumas perguntas intrigantes que são debatidas em várias áreas da sociedade. O conceito de vida não é claro. Há quem diga que gera-se uma vida a partir do momento em que houve fecundação. Outros afirmam que só podemos considerar como vida a partir do momento em que o feto possui seu sistema nervoso formado. E há quem vá contra o aborto por motivos científicos, religiosos, morais, dentre outros, assim como há quem é a favor do aborto por questões feministas (domínio sobre o próprio corpo), humanitárias (como nos casos de estupro), sociais (no caso de famílias muito carentes), psicológicas (gravidez indesejada na adolescência), dentre outros.

De forma geral, podemos definir dois tipos de aborto: o espontâneo, que ocorre por causas naturais, e o induzido, em que ocorre a interrupção da gravidez por meios legais (em clínicas autorizadas e de acordo com a legislação vigente no país) ou ilegais (por meio de clínicas ou métodos clandestinos, como, por exemplo, remédios e ervas). No Brasil, desde 2012, em alguns casos (abuso sexual, riscos à saúde da mulher ou doenças graves que impossibilite a vida do bebê), é permitido o aborto. Porém, tratam-se de exceções, e qualquer outra forma de aborto no país é considerado crime.

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No entanto, o aborto é um impasse mundial. Na Inglaterra, por exemplo, um estudo pedido em 2008, com finalidades de discutir a diminuição do prazo para interrupção da gravidez por má formação do feto, passando das atuais 24 semanas para 20 a 22 semanas, trouxe algumas novidades. De acordo com o estudo, essa medida de redução não se justificaria, pois o feto só sentiria dor a partir da 24ª semana. Isso porque, até esse período, as ligações entre o sistema nervoso periférico e o córtex cerebral não estariam completas e, de acordo com neurocientistas, o córtex é imprescindível para experimentarmos a sensação de dor. Assim, mesmo o feto com 24 semanas possuindo um sistema nervoso que lhe permite reagir a estímulos, a informação da dor não chegaria ao cérebro. Ainda de acordo com a pesquisa, o feto estaria em um estado de dormência no útero da mãe, devido a química e a temperatura do meio uterino, e também por isso não sentiria dor.

Pois é, o aborto é uma questão controversa. E a dor, de acordo com a Associação Internacional de Estudos da Dor, não apenas ocorre pela percepção sensorial, como também possui relações comportamentais e psicológicas. Portanto, mesmo no restante da gestação ou mesmo logo após o nascimento, o bebê não experimenta a dor tal como um indivíduo que já teve contato com o mundo externo o faz. Além disso, o próprio conceito do que pode ser chamado como má formação também é muito aberto (e, por vezes, falho). Por isso, chegar a uma conclusão temporal para um aborto sem sofrimento parece algo difícil.

Fonte: infoescolatuasaudeveja.abril.publico.pt/
Imagens: Reprodução/obviousmag/ iapa