O medicamento da salvação? O Rivotril é um dos medicamentos mais utilizados no Brasil e tem aumentado exponencialmente seu consumo!

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Você já deve ter ouvido falar do Rivotril, não é mesmo? São comuns as indicações ou mesmo brincadeiras de quem o usa para se acalmar e aguentar as pressões cotidianas. Também chamado Clonazepam, nome de seu princípio ativo, a medicação deveria ser utilizada por pessoas com problemas graves de ansiedade (para saber mais, clique aqui) ou Epilepsia (apesar dessa não ser a sua principal função). Isso porque o Rivotril tem como principal propriedade agir sobre o Sistema Nervoso Central (SNC) de forma a equilibrar a ação de neurotransmissores estimulantes e depressores. Simplificadamente, sua ação é suprimir a ansiedade causada por algum motivo específico, ou seja, compensar a estimulação incontrolável do SNC, deprimindo-o.

No entanto, a utilização do Rivotril para quaisquer angústias cotidianas, como dificuldades no trabalho, nos afazeres domésticos, nos estudos, problemas pessoais (como aquela “depressãozinha” por um término de namoro, por exemplo), ou qualquer outra frustração da sociedade moderna, leva as pessoas a fazer o uso de medicação. Tanto é que, nos últimos anos, o Brasil se tornou o principal consumidor de Clonazepam no mundo! Estimativas mostram que em 2007 foram consumidas cerca de 29 mil caixas da medicação, subindo para 10 milhões em 2010 e para 23 milhões entre 2014 e 2015, de acordo com a IMS Health. No entanto, mesmo sendo o maior consumidor de Rivotril, o Brasil está apenas na 51ª posição de consumidores de benzodiazepínicos no mundo. Isso significa que, enquanto o mundo consome outros remédios, nós preferimos o Rivotril. Mas porquê?

O Rivotril pertence a uma classe de remédio, conhecida como benzodiazepínicos, e que inclui outros remédios como Diazepam e Lexotan, e que foram responsáveis por substituir os barbitúricos (como o Gardenal) no século passado, por seu efeito menos nocivo (já que a dose terapêutica e a dose fatal dos barbitúricos eram muito semelhantes).

Por ser um dos mais antigos e reconhecidos remédios em termos de eficácia, ele têm sido amplamente receitado. Esse é um dos motivos de seu amplo consumo, afinal um medicamento tarja preta necessita obrigatoriamente de receita para ser comprado nas farmácias. Logo, para ser o segundo medicamento mais vendido  (perdendo apenas para um anticoncepcional distribuído pelo SUS) e o primeiro calmante mais consumido no Brasil, é necessário que ele seja muito receitado, ou que o consiga com aquele “jeitinho brasileiro” por “baixo dos panos” (o que acontece com frequência!). E o fato da prescrição não ser feita obrigatoriamente por um psiquiatra, faz com que receitas sejam obtidas mais facilmente com qualquer médico.

Rivotril: O segundo remédio mais vendido do Brasil
Estimativas mostram que em 2007 foram consumidas cerca de 29 mil caixas da medicação, subindo para 10 milhões em 2010 e para 23 milhões entre 2014 e 2015.

Outro fator que torna o Rivotril o queridinho do Brasil é seu custo. Em média, ele custa em torno de 8 reais nas farmácias, enquanto outros remédios com efeitos semelhantes custam mais do que o dobro desse valor. Seu efeito prolongado também é um atrativo para sua procura, pois ao contrário de outros medicamentos que duram apenas algumas horas, o Rivotril possui um longo tempo de duração e gradual eliminação do organismo.

No entanto, o que não se leva em conta é que o Rivotril não deveria ser receitado a qualquer um, não apenas por seus efeitos colaterais, como também por causar dependência química e psicológica. Por isso, esse remédio, que parece ser a solução mundial para a “paz” e a calma, na verdade têm se tornado um sério problema, ao ser utilizado por pessoas que poderiam lidar com seus problemas e angústias. É preciso sentir a dor! A medicalização pode disfarçar, mas não resolver o problema. E para quem realmente precisa de tratamento, apenas se medicar não adianta. A psicoterapia é essencial e se mostra um dos principais meios para amenizar o problema e “sair” dos remédios a médio ou a longo prazo.

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