Há quem diga que não está escrito na testa se alguém é ou não é psicopata. Será  mesmo?

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“Psique” quer dizer “mente”. “Pata” vem de “patologia”, “doença”. Seria o psicopata um doente mental? Sem dúvida. No entanto, onde está a doença na mente destes indivíduos que, não poucas vezes, mostram-se aguçadamente inteligentes, eloquentes e até carismáticos? Quando o psicopata torna-se criminoso e sua história macabra vem a público, a resposta fica nítida. A tranquilidade gélida na descrição de seus atos e a aparente ausência de qualquer sentimento de culpa é motivo de escândalo para aqueles que, desde cedo, acostumaram-se a ouvir aquela vozinha lá no fundo da cabeça, a qual aprendemos a chamar de “consciência”. E essa é justamente a diferença entre um assassino comum e um psicopata propriamente dito. Não é que ele odeie ou repudie sua vítima. A questão é que ele não sente nada. Nem antes, nem depois.

Essa apatia perturbadora dos psicopatas deixou de ser apenas uma exclamação popular e atingiu o âmbito científico. Utilizando aparelhos que tornam possível “medir” as emoções, cientistas monitoraram as ondas cerebrais de psicopatas diante de diferentes estímulos. Sabe aquela história de não poder ouvir uma certa palavra que já te arrepia os cabelos e te faz querer bater três vezes na madeira? Isso simplesmente não existe na vida de um psicopata. O dr. Robert Hare, psicólogo da University of British Columbia, constatou em seu estudo sobre o assunto que, para esta classe de pessoas, ouvir palavras como “morte” ou “câncer” soa tão emocionante quanto ouvir “mesa” ou “cadeira”. As imagens dos exames que numa pessoa normal mostrariam um zigue-zague de relevos, ora altos, ora baixos, num psicopata não passariam de uma monótona linha reta.

Mas o resultado de estudo mais intrigante, talvez, seja o do dr. Adrian Raine, professor de psicologia da Universidade do Sul da California.  Enquanto cientistas do mundo inteiro, na busca de uma possível explicação para o que é no mínimo uma deformação da natureza humana, vasculharam o DNA a procura de um suposto “gene criminoso”, sem sucesso, Raine preferiu ir pelo caminho mais óbvio. Se você sentir que sua visão não funciona bem, vai procurar quem examine seus olhos, não seus genes. Da mesma forma, Raine atribuiu a frieza dos psicopatas a algum possível defeito na região cerebral responsável pelo juízo de valor, bem como pelo controle dos impulsos: o lóbulo pré-frontal, bem aí, atrás dos seus olhos. Ele examinou nada menos que 21 homens fichados com crimes violentos e…. BINGO! Todos (eu disse: TODOS!) apresentavam, em média, 11% a menos de matéria cinzenta nessa área, se comparados com uma pessoa normal como você e eu, que eventualmente sofremos de consciência pesada.

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Coincidentemente (ou não), alguns psicopatas que marcaram por seus atos mais que desumanos, como David Burkowitz e John Gacy, sofreram lesões na cabeça quando crianças. Estas podem ter decorrido tanto de acidentes quanto de surras propositais. Mas calma lá! Quer dizer então que toda pessoa que tiver esse “cérebro a menos” é um psicopata? Raine é cuidadoso ao afirmar que não, embora isso aumente a probabilidade, sim. A despeito disso, a psicopatia continua sendo considerada, até o momento, como um resultado de aspectos biológicos + questões sociais. Mas, para nós, fica um alerta. Num mundo onde sentimentos como culpa ou arrependimento estão cada vez mais fora de moda, os psicopatas estão aí para nos mostrar como seria a nossa vida sem essas emoções. Enquanto cultivamos o medo do peso na consciência, talvez nosso maior receio, na verdade, deveria ser o de não sentí-lo. Para os religiosos, esta é a voz de Deus na alma. Para os não religiosos, uma mera manifestação da natureza humana. Para TODOS, um ingrediente indispensável para o são convívio em sociedade.

Fonte: Serial Killers: Louco ou Cruel?, de Ilana Casoy.  Imagens: testworld/ eleganteonline