É recomendado beber a própria urina em uma situação extrema de sobrevivência?

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“Podemos beber urina para sobreviver se tiver em uma situação faltando água?” (Junior Lemos)

Júnior, o assunto é controverso. Inclusive já falamos sobre a urinoterapia. Muitas pessoas creem que beber urina pode trazer inúmeros benefícios à saúde, que vão desde tratamentos de simples machucados ou queimaduras, até colaborar no combate de doenças graves, como o câncer e a AIDS, mas não há nada comprovado cientificamente sobre os “milagres” do consumo de urina. Além dos relatos de benefícios à saúde, existem também muitos relatos de pessoas que beberam a própria urina para sobreviver a acidentes, naufrágios, soterramentos sob escombros de prédios destruídos pela ação de terremotos, dentre tantos outros casos. Lembra do filme 127 horas, onde o homem corta o próprio braço para escapar da morte? Pois é, o famoso aventureiro Aron Ralston afirma ter sobrevivido, 2 dos 5 dias, preso às rochas, graças a sua urina. Outro incidente conhecido é o acidente aéreo na Cordilheira dos Andes (Chile), em 1972, onde os sobreviventes, além de consumir urina, sobreviveram comendo carne humana!

Mas o impasse é o seguinte: nosso corpo aguenta várias semanas sem comida (normalmente, até 60 dias), mas não suporta mais do que alguns dias (menos de 1 semana), sem água! Isso considerando que essa sobrevivência seria no limite do corpo, que sentiria (e muito) a falta de água. A água é responsável pelo transporte de nutrientes e substâncias tóxicas (eliminando-as), além de manter a temperatura corporal, regular a circulação sanguínea, dentre outras funções vitais. Tamanha é sua importância que especialistas deixam claro: em casos extremos de sobrevivência, em que você tenha de escolher entre comer e beber, sem dúvidas mate sua sede primeiro! Mas e na ausência de água, beber urina seria a solução? Médicos afirmam que não!

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A urina uma excreção nada mais é do que uma eliminação de diversas substâncias, como nitrogênio, toxinas e vários outros resíduos metabólicos. O sangue filtrado inicialmente no fígado, elimina essas substâncias, que vão em seguida para os rins e, por fim, são armazenados na bexiga para serem evacuados. Assim, ao contrário do que se pensa, a urina não é um composto estéril: mesmo possuindo grande parte de água (95%), os metabólitos e eletrólitos (sódio, cloreto e potássio) são prejudiciais. Os eletrólitos, por exemplo, causam a desidratação de células, efeito exatamente oposto do que o desejado na busca por sobrevivência. Beber o xixi então, dadas as ressalvas das concentrações de sais, seria como beber água do mar: só traria maior desidratação!  Além disso, o canal urinário possui inúmeras bactérias (boas e ruins), que torna ainda mais inviável beber o xixi: se você está numa situação de fragilidade, o risco de infecções pode ser ainda maior!

Apesar dos médicos afirmarem um sonoro “NÃO!” para a questão, muitos especialistas em sobrevivência a ambientes selvagens (como aqueles que mostram suas “habilidades” em programas de TV), pessoas que sofreram incidentes trágicos, ou mesmo adeptos da urinoterapia, acreditam fortemente nos benefícios e possibilidade de sobrevivência com o consumo da própria urina. A questão ainda não tem uma resposta categórica, mas os indícios médicos, e o pensamento de que aquilo que é eliminado não seria utilizado pelo organismo, parece coerente… Em todo caso, espero que você nunca tenha de beber nada além de água para sobreviver, Júnior!

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Fontes: gazetadopovo/gizmodo/g1/hypescience  Imagens:  potencialgestante/comentariojovem