Afinal, você realmente sabe o que é ciência, ou acha que sabe?

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Frequentemente dizemos que “a ciência descobriu que…” ou que “cientistas dizem que…”, abordando as descobertas, inovações e curiosidades científicas. Esse discurso é frequente em sites, livros, noticiários, dentre outros meios de divulgação científica. Mas o que realmente é a ciência?

Tradicionalmente considera-se que a ciência tem a função de descrever a realidade, compreender e definir o mundo, o modo como funcionam as coisas no universo. Derivada do latim scentia, a palavra ciência relaciona sua definição ao método científico, que prega que uma teoria deve ser baseada em fatos, reproduzíveis e testáveis, utilizando-se dos seguintes procedimentos: realizar observações, levantar questionamentos, formular hipóteses, analisar os dados para tirar conclusões e reproduzir os experimentos até que não ocorram contradições entre os dados e a teoria, dessa forma confirmando-a. Basicamente, dois métodos norteiam as abordagens investigativas: o dedutivo, em que hipóteses são levantadas, para depois buscar dados e realizar testes experimentais que possam confirmá-la ou refutá-la; e o método indutivo, em que, a partir de dados obtidos por observações, chega-se a formulação de hipóteses.

Independente do método escolhido, as concepções apresentadas sobre ciência são tradicionais, enfocando no desvendamento de enigmas através de observações de fatos, como se fosse objetiva, neutra e inquestionável. Nessa perspectiva, consideramos que a ciência descreve a natureza tal como ela é, como se, independente de nós, os fatos estivessem lá apenas para serem descritos. Mas o primeiro argumento contra esse “poder” da ciência está na sua própria constituição: antes de tudo, a ciência possui modelos e teorias, que tentam realizar descrições próximas da realidade, mas que podem mudar, caso um cientista ou um grupo de cientistas formulem hipóteses mais aceitáveis. Em outras palavras, a ciência é paradigmática: as teorias são aceitas e legitimadas pela comunidade científica em um determinado período, e seu caráter de verdade será mantido enquanto essa comunidade acreditar ser viável. Dessa forma, o contexto social e histórico influenciam nas escolhas e validações científicas. A ciência não é nada neutra, é uma atividade humana em que existem erros, retificações, especulações e conclusões mediante a aceitação de um grupo.

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Portanto, quando você pensar em ciência, reflita que não se tratam de verdades. O que se aborda na divulgação científica são reflexos dos conhecimentos formulados e aceitos na atualidade. Apesar do determinismo das “leis” da física, química e biologia, são apenas teorias que, por mais consolidadas, podem tornar-se questionáveis quando um novo paradigma se estabelecer. Até pouco tempo, as leis de Newton, por exemplo, eram consideradas universais. No entanto, Einstein simplesmente “demoliu” esse absolutismo com as teorias da relatividade. Esse exemplo, clássico da física, também é aplicável a Biologia. Em suma, não existem verdades, e muito menos, absolutas!

O-QUE-É-CIÊNCIA

Fonte: livescience Imagens: ufrgs/exuromedical
FRENCH, S. Ciência: conceitos-chave em filosofia. Porto Alegre: Artmed, 2009
CORACINI, M. J. Um fazer persuasivo: o discurso subjetivo da ciência. Campinas: Pontes, 1991.